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O GENIAL RAL


Rio de Janeiro - Conheci o cartunista Ral no jornal humorístico ‘Papa-Figo’, do Recife, em 1978.

O Papa-Figo era um pasquim pernambucano que fez tanto sucesso que  virou página do tabloíde carioca e tinha como colaboradores, além dos pernambucanos Ral, Bione, Lailson e Clériston; Jaguar, Nani, Pimentel, Amorim, Cervantes e Sávio Araújo.

Romildo Alves Lima, o Ral, é um chargista e ilustrador que trabalhou nos jornais ‘Folha de Pernambuco’, ‘Diário da Noite’, ‘Jornal do Commercio’, foi editor de arte no ‘Diario de Pernambuco' e um dos criadores do ‘Papa-Figo’.

O cartunista nasceu na cidade de Arcoverde, sertão de Pernambuco, em fevereiro de 1951. Em 1966, com sete anos, Ral se mudou com a família - pai, mãe, um irmão e duas irmãs - para o Recife.

Influenciado pelo irmão, Rui, que já desenhava, Ral começou a desenhar os hérois das histórias em quadrinhos da época: Fantasma, Cavaleiro Negro, Tarzan. Sem recursos, às vezes, desenhava nas calçadas com carvão e giz.

Com 13 anos, fez um curso de desenho por correspondência da Escola Panamericana de Arte. O menino gostava, principalmente, das tirinhas, da coisa da sequência, da historinha. “Era, ‘o curso dos artistas famosos’. Tinha entre os orientadores o cartunista Ziraldo. Eu nem sabia o que era cartum, queria ser desenhista de quadrinhos. Mandava trabalho, e eles avaliavam, até receber o diploma” - disse, Ral. 

Se vivo, o cartunista Ral faria este mês 72 anos. (Divulgação) - 

Ral começou a trabalhar em uma banca de jornal de um tio. Onde conheceu ‘O Pasquim’: “Um dia eu tava lá, e chegou um jornal estranho, com uma entrevista com o Ibrahim Sued na capa. O Pasquim foi a minha escola. Foi quando comecei a fazer as coisas com uma noção maior de engajamento” - disse.

O cartunista começou a publicar na página de cartas dos leitores. Um dia, veio para o Rio de Janeiro visitar a redação do jornal carioca. Com o material de quadrinhos embaixo do braço, pretendia publicar um livro de quadrinhos, com o sugestivo título de 'Know-Ral'. Não conseguiu, mas conheceu parte da patota do hebdomadário, entre eles, Jaguar, Ziraldo e Millôr.

O conceito é do Ziraldo e define bem o trabalho do cartunista: “O desenho do Ral é primoroso – ele é um artista plástico. Ele tem um traço fino, leve, meio trágico, doloroso, dolorido, muito agressivo. Ele usa uma linha fina e tem sempre uns pontinhos pretos na inserção de suas linhas. Sempre um desenho muito cruel. Ral é um Deus do desenho”.

Um dia, Ral viu o anúncio de um concurso que selecionava artistas para colaborar nas revistas da Edrel, de São Paulo. Foi selecionado e começou a ganhar dinheiro com o cartum.

Em 1968, com 17 anos, começou como colaborador do ‘Jornal do Commércio’. Em 1995, entrou para o ‘Diário de Pernambuco’ como ilustrador. De lá, foi para a ‘Folha de Pernambuco' e depois para a ‘Gazeta Mercantil’. Os jornais foram sua escola, já que em Pernambuco não havia escola de desenho.

Colaborou com o lendário ‘O Pasquim’, fundou o tablóide ‘A Xepa’- em 1973 -, e foi um dos fundadores do semanário pernambucano Papa-Figo que começou como uma página publicada no jornal ‘Folha de Pernambuco’ e circulou durante 25 anos.

Em 2007, Ral foi homenageado na nona edição do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco (FIHQ). Inclusive é de Ral a arte do Boi Misterioso, que foi marca e troféu do evento. Essa homenagem ao chargista, cartunista e ilustrador é um desses momentos raríssimos de reconhecimento de uma carreira que começou nos anos 60 e marcou as gerações seguintes de artistas pernambucanos.

O cartunista que é servidor aposentado da Prefeitura de Olinda, está travando uma batalha contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença que afetou a coordenação motora e a fala, impedindo o cartunista de desempenhar suas atividades artísticas.

Ral  passou por três internações de urgência recentemente, devido a uma infecção intestinal e duas infecções urinárias, faleceu no dia 28 de maio de 2023.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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