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COMO O BOLSONAZISMO MATOU A SELEÇÃO BRASILEIRA

JAGGER
Montagem / Ediel Ribeiro - 

Rio de Janeiro - Minha crônica dessa quarta-feira já estava quase pronta, quando me deparei com o texto elucidativo do jornalista Walter Falceta. Nesses tempos de violência política, radicalização extrema e com a proximidade da Copa do Mundo, peço licença ao amigo para reproduzir seu belo texto:

"Sim, você não percebeu, mas faltam apenas 15 dias para o início de mais uma Copa do Mundo.

Antigamente, nesta época, o país era mistura de agitação, ansiedade e festa. Lembra?

Desta vez, nada, coisa nenhuma. 

Nunca vimos tanta indifirença em relação aquele que muitos consideram como o evento esportivo mais importante do planeta.

Nem a imprensa especializada está prestando muita atenção ao torneio.

Por quê?

Primeiramente, pela mercantilização do esporte, obra destrutiva da FIFA e da CBF. 

Em segundo lugar, porque a Seleção já não nos representa. 

É um juntado de atletas estrangeiros, escalados por agentes tubarões, em busca de vitrine global.

A terceira razão, e a mais importante, é o sequestro da camisa do selecionado pelo bolsonazismo, o mais imbecil, desonesto e agressivo movimento político de massas da história brasileira.

A camisa do Brasil passou a ser uniforme de pessoas que recusam a democracia, combatem a Ciência, aplaudem a incineração da Amazônia, vibram com a aniquilação dos povos originários e reagem de forma violenta contra todos os divergentes.

O fardamento amarelo marcou o golpe contra Dilma, a eleição do  canibal e o levante dos baderneiros de estrada, os mesmos humilhados pelas torcidas do Galo e do Timão.

Muita gente má vestiu a camisa que, no passado, foi envergada por gente bacana, como Sócrates, Casagrande, Juninho Pernambucano, Leônidas, Reinaldo e Garrincha.

Para exaltar o mussolinista pindorâmico, levantaram-se, por exemplo, o arqueiro esquartejador Bruno, o estuprador Robinho e o cai-cai fraudador Neymar.

O resultado disso é que sobre essa camisa desabou inapelavelmente uma pesada maldição. 

Ela causa repulsa em qualquer espírito evoluído. Confira!

Você, aliás, conhece alguém que saiba escalar o onze canarinho? Eu não conheço. 

Porque os Minions nem mesmo gostam de futebol.

Sequestraram as cores nacionais para carimbar como intrusos estrangeiros todos os progressistas que se manifestam com outras cores.

Nem é fanático patriotismo, mas maldoso oportunismo.

Nós até que tentamos resgatar a camisa. Tentamos, tentamos, mas não logramos êxito. 

Não deu quando mataram um coração-esperança, à procura de um cidadão enfermo que buscava o prolongamento da vida.

Não deu quando um empresário morreu ao colidir com uma carreta atravessada na rodovia. 

Não deu quando apedrejaram o carro que carregava uma jovem em trabalho de parto.

Em 1970, mesmo com a Ditadura e a propaganda ufanista dos botinudos, a esquerda torceu pela Seleção, porque seu triunfo representava genuína alegria para o povo sofrido deste país.

Desta vez, não! 

Os símbolos da Seleção representam o sistema que sufocou mulheres e homens em Manaus, que roubou a merenda para enriquecer pastores, que constituiu uma enorme multidão de 33 milhões de bocas famintas.

A Seleção foi suicidada, e converteu-se na referência máxima da estupidez, do ódio e do jogo sujo".
(Walter Falceta)

 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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