Coluna

GLOBO LIXO

Rio de Janeiro - Como todos já devem saber, Bolsonaro odeia a TV Globo.

Aliás, o capitão odeia jornalistas e a imprensa em geral, mas, em especial, a 'Vênus Platinada’. Acontece que, do nada, o presidente aumentou o repasse de verba para a emissora em 75%, entre janeiro e julho deste ano. O montante chegou a R$11,4 milhões.

Os apoiadores do presidente - os radicais que apoiam toda e qualquer ação ou omissão do Bolsonaro - estão em parafuso, à espera de novas orientações para saber se ligam ou não a TV no canal da família Marinho.

Ninguém sabe com exatidão como isso aconteceu , mas agora que já aconteceu posso contar a história.

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Reprodução - 

Numa tarde, durante o último verão - entre um cochilo e outro - o presidente Jair Bolsonaro assistia à TV. De repente, o secretário de Comunicação, André de Souza Costa entrou no gabinete. Bolsonaro virou-se para ele e disse:

- Até que essa tal de TV Globo é boa. Temos que investir mais nela.

- Ótima idéia - retrucou o secretário. - Mas, o senhor não disse que a TV Globo era um lixo??

- Luxo!!! Eu disse, luxo!

- Então por que nos primeiros anos do seu governo, Record e SBT, emissoras de menor audiência, mas simpáticas ao seu governo, superam a Globo em volume de publicidade oficial? Até Jovem Pan, Rede TV e Bandeirantes mereceram mais atenção do seu governo.

- Isso daí é outra ‘cuestão, taokey?

Provavelmente, Bolsonaro percebeu que, para mudar o jogo eleitoral, não basta pregar para convertidos nem assustá-los com os velhos fantasmas do comunismo, da inflação alta e do medo da volta do PT ao poder. Para dar a ele o direito de passar mais quatro anos passeando de moto e jet sky por aí, é preciso ganhar os eleitores, digamos, menos apaixonados. Ainda que com verbas públicas e mentiras.

- Eu nunca critiquei a TV Globo. Isso é uma calúnia!! Zero! Eu sempre joguei com eles dentro das quatro linhas.

- Em 2021 o senhor disse que a emissora era um lixo e que ia caçar a concessão da TV. Além disso, os gastos do seu governo com publicidade, em 2022, somando os gastos com as cinco maiores emissoras de TV aberta do país, Globo, SBT, Rede TV, Record e Bandeirantes, o governo já passa de R$ 33 milhões. Não dá para gastar mais com publicidade.

- Eu preciso divulgar as realizações do meu governo e essas emissoras daí não tem a audiência da Globo, taokey. Na ‘cuestão’ das armas, quando assumimos tinha 1.650 lojas de armas, agora temos 2.650. Dá mil e pouco a mais. Quanto é que dá? - perguntou, virando-se para o secretário. - Faz a conta aí. Subiu 70% isso daí - disse, errando flagrantemente nos cálculos. - E não se esqueça que o ‘Nove Dedos’ disse que se ganhar as eleições vai recolher as armas, vai acabar com isso daí e transformar os clubes de tiros em bibliotecas. Nós não podemos permitir isso daí. Além disso, preciso divulgar o meu ‘pacote de bondades’ que vai ampliar o Auxilio Brasil e distribuir subsídio para caminhoneiros e taxistas enfrentarem a alta da gasolina.

- A imprensa está criticando essa ‘PEC Kamikaze’ que vai driblar o teto de gastos, a lei eleitoral e a Lei de Responsabilidade Fiscal, além de causar impacto nos cofres públicos.

- A culpa é da TV Globo que fica divulgando essas fake news sobre o meu governo. Eles querem dinheiro? Vamos dar dinheiro para eles ficarem do nosso lado; depois das eleições a gente corta tudo e fecha a emissora. A partir de agora, todo mundo no meu governo é Globo desde criancinha, taokey? - disse, fazendo coraçãozinho com os dedos.

- E suas convicções, presidente? - quis saber o secretário.

- Plim! Plim! - disse, Bolsonaro fazendo ‘arminha’ com as mãos.

Na política, não tem convicção que fique de pé diante do risco de uma derrota eleitoral.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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