Durante a pandemia, poetas paulistas, especialmente da cidade de Mogi das Cruzes, se mobilizaram para trazer arte e cultura para aqueles que se viram obrigados a se exilar em suas casas.
Editaram livros, escreveram poesias e criaram eventos como o ‘Poesia na Rede’ e ‘Terça Literária’, onde poetas publicam e recitam poemas que podem ser acompanhados pelas hashtag #entremeioliterário #poesianarede e #terçasliterárias .
Aqui alguns deles.
POESIA E NADA MAIS
Vivo da noite que adentra
A madrugada já mora em mim
Em meus versos feito estradas
A poesia parece não ter mais fim
Conjugo, insistentemente, um mesmo verbo
Já não soletro em pensamento
Grito alto aos quatro ventos
Há um impasse dentro de meu peito
Se arranco a erva pela raiz,
Ou se de vida a alimento
E nesse dilema o tempo passa
Desperdício de raro presente
A vida é como um rio dentro da gente
Hora transborda em abundante água,
Hora seca feito a chuva escassa
Enquanto corro e não saio do lugar
Busco em livros meu mundo inteiro
Já não conto nenhuma história
Guardo a minha em arremedos de poesia
Onde sou poema em branco dentro da noite
E nada mais me rima à luz do dia!!!
(Daisy Braito)
MEDO
Pessoas apressadas
Em várias direções
Tosses
Espirros
Na grande cidade.
Pessoas alertas
Em todos os cantos
Máscaras
Medo
No estreito vagão.
Assustados, lemos notícias
Tristes, choramos os mortos
Obedientes, seguimos
As orientações.
Sem abraço.
Sem beijo.
Sem aperto de mão.
Crentes, oramos por proteção.
(Sheila F. Kuno)
DESPIR-SE
Despir-se
de tecido
é fácil.
Difícil é tecer
sentimentos.
Com fio de
respeito,
paixão,
bem querer...
Fazer da palavra
pequenos botões,
que abrem-se
lentamente.
Em uma nudez
transcendental.
(Carla Pozo)
CONVITE
Hoje eu te convido.
Vem, que eu já cancelei compromissos,
fiz uns canapés,
preparei teu drinque predileto
e até já separei uns discos.
(aqueles do rei Roberto )
Fechei as cortinas,
desliguei a teve,
- que é pra dar um tom!
Arrumei minha cama,
tirei o batom,
perfumei o meu corpo e a brasa já se torna chama!
Vem…
(Maya Iglesias)
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