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ADIOS, DOMÈNEC!

Divulgação

Rio de Janeiro - Domènec Torrent não é mais treinador do Flamengo.

Foi demitido pelo próprio ego.

Lembrei de uma história do saudoso, Saldanha.

Conheço muitas histórias do jornalista João Saldanha. Quem não conhece? Tem aquela que ele contava sobre uma cena de um filme do Charlie Chaplin, para ilustrar uma briga depois de um jogo do Fluminense contra o Bonsucesso:

No filme, Charlie Chaplin aparece correndo atrás de um caminhão para entregar uma bandeirinha vermelha, que tinha caído do veículo e, ao dobrar uma esquina com a tal bandeirinha vermelha, apareceu uma passeata de protesto. Carlitos apanhou pra burro da polícia e foi em cana sem saber porque.

Domènec não sabe porque perdeu o emprego - estava entre os líderes do campeonato - mas o Flamengo sabe porque o demitiu: seu ego é grande demais.

O treinador espanhol, todos sabem - menos ele -, não é ainda um treinador pronto.

Ele pegou um time pronto. Campeão Carioca, da Supercopa do Brasil, da Recopa Sul-Americana, do Campeonato Brasileiro e da Libertadores.

Um time azeitado. Jogando por música. Uma equipe que ganhou tudo o que disputou em 2019, ou quase tudo. Era só manter o time e a pegada.

Logo na apresentação, o catalão Domènec já foi dizendo que não mexeria num time que estava ganhando. Citando um conto de Mark Twain, em que um elefante faz das suas em uma loja de porcelanas, ele disse: “Não vou, como um elefante na sala, sair quebrando tudo.”

Ou seja, não sairia mudando o esquema vitorioso implantado pelo seu antecessor, o português Jorge Jesus. Agradecida, a torcida rubro-negra respirou aliviada.

Vã ilusão. Já na primeira partida, contra o Atlético Mineiro, a fala do treinador bateu de frente com seu ego.

O primeiro tempo da partida com o time mineiro foi o melhor do Dome no comando do Flamengo, com  time do Jorge Jesus.

No segundo tempo, o ex-auxiliar do Guardiola quis dar um ‘toque pessoal’ na escalação do time. Inventou uma linha com cinco atacantes, sem deixar em campo sequer um armador na criação. A bizarrice tática deixou a zaga perdida e custou sua primeira derrota.

No segundo jogo, contra o fraco Atlético Goianiense, Domènec, mostrando que não conhece o elenco que comanda, inventou o Rodrigo Caio de lateral-direito, deixou o Rafinha no banco, sacou Arrascaeta, colocou o Vitinho no time e, pior, escalou Bruno Henrique na ponta-esquerda e prendeu Gabigol entre os zagueiros.

O catalão implantou no Flamengo o tal ‘jogo posicional’ do qual é adepto. Abandonando radicalmente a idéia inicial de manter o esquema do Jorge Jesus e ir, aos poucos, dando sua cara ao time. Tomou de três.

Nos jogos seguintes, mesmo com o time perdido, a defesa vulnerável (uma peneira), os péssimos resultados e sofrendo goleadas memoráveis, Domènec Torrent não abandonou suas convicções.

O resultado, como vimos, foi desastroso. Pro Flamengo e para o Dome, que caiu agarrado ao seu ego.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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