Coluna

O GENIAL, ALCEU PENA

Rio - Se contar, ninguém acredita. Pode parecer exagero, mas, talvez, o primeiro contato que eu tive com o desenho, aos cinco anos, foi através do trabalho de Alceu Penna.
 
Alceu foi o primeiro desenhista que eu admirei. Eu era criança, nem imaginava que viria a ser desenhista. Meu pai me levava para cortar os cabelos numa antiga barbearia, no centro do Rio, onde havia uma pilha de revistas "O Cruzeiro" (revista publicada aqui no Rio, na primeira metade do século XX. Pra ser exato, início dos anos 30) e eu, enquanto esperava para ser "tosquiado", folheava as velhas revistas,  admirado com as mulheres sensuais e coloridas que Alceu desenhava, em sua coluna "As Garotas".
 
Alceu Penna foi um cartunista e pioneiro da moda no Brasil. Nasceu no dia 10 de janeiro de 1915 em Curvelo, pequena cidade de Minas Gerais e logo aos 17 anos mudou-se para o Rio de Janeiro.
 
Alceu Penna. (divulgação/arquivo pessoal)
Alceu Penna. (divulgação/arquivo pessoal)

Morava na Rua das Marrecas, na Cinelândia, no centro do Rio. Iniciou seu trabalho de ilustrador no suplemento infantil de "O Jornal", de Assis Chateaubriand, em 1932 e logo em seguida se tornou colaborador da revista "O Cruzeiro".  

Alceu – um amante dos quadrinhos – trabalhou, também, como ilustrador e desenhista de histórias em quadrinhos de "O Globo Juvenil", um tablóide que circulava três vezes por semana e fora criado por Roberto Marinho, em junho de 1937 e tinha como assistente do editor Nelson Rodrigues (antes de se tornar cronista, ficcionista e dramaturgo dos melhores). Alceu propôs a Nelson que adaptassem, juntos, clássicos da literatura para o suplemento. 
 
A parceria rendeu bons frutos. Eles levaram para a linguagem dos gibis, entre outros, "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare, "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, e "O Mágico de Oz".
 
Outra grande figura a cruzar o caminho de Alceu foi Millôr Fernandes. Em 1937, Millôr tinha 13 anos e, por indicação de um tio, foi trabalhar em "O Cruzeiro" como ajudante gráfico.
 
Como havia muito trabalho – "O Cruzeiro" e os quadrinhos de "O Globo Juvenil" -, Alceu chamou Millôr para que ele o ajudasse no acabamento das histórias em quadrinhos e da coluna "As Garotas". 
 
"Passava algumas horas por dia, duas ou três vezes por semana, preenchendo o fundo dos seus desenhos. Autodidata, dono de um traço ágil e estilo inconfundível, Alceu desenhava muito, desenhava com rapidez, espontaneidade e graça absolutamente ímpar", lembrou Millôr, anos mais tarde. 
 
Na virada dos anos 1930 para os 1940, Alceu viveu dois anos nos EUA, pretendia ser ilustrador e cartunista da revista "Esquire", e conseguiu. Por mais de um ano, o brasileiro colaborou com cartuns na publicação.
 
Lá, ele reencontrou a amiga Carmen Miranda , que havia conhecido nos bastidores do Cassino da Urca, algumas semanas antes de embarcar para a América. 
 
O desenhista fez uma série de sugestões para renovar o guarda-roupa da cantora. Adicionando as saias multicoloridas, os turbantes fantásticos e os sapatões de sola grossa, compondo o visual com a qual Carmen Miranda viria a ser conhecida internacionalmente.
 
"As Garotas" de Alceu Penna (morto em 1980) foram tão importantes, em sua época, para o desenho gráfico, como foram J. Carlos, com suas melindrosas e Péricles, com o seu "Amigo da Onça". 
 
 
* Ediel Ribeiro é jornalista e escritor

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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