Em depoimento na CPI da Petrobras, o presidente da Setal Engenharia e conselheiro da Toyo Setal, Augusto Mendonça Neto, afirmou que a propina cobrada pelos ex-diretores da estatal chegava a até 3% do contrato. Segundo ele, parte do dinheiro das empresas foi repassada em doações para o PT, em 2008, a pedido do ex-diretor da estatal Renato Duque.
O empresário explicou que procurou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para receber orientações sobre como repassar os valores e disse que Vaccari não sabia que o pedido tinha partido de Duque. O empresário desmentiu o ex-tesoureiro, que disse estar no controle das finanças do partido desde 2010. Segundo Mendonça Neto, Vaccari comandava as contas do PT desde 2008.
“A minha conversa pelo lado da Diretoria de Serviços sempre acontecia pelo Renato Duque ou pelo Pedro Barusco. Foi com quem discuti valores e acertei pagamentos. Duque, em algumas oportunidades, me pediu que fizesse contribuições ao PT. Na primeira vez, fui procurar o João Vaccari no escritório do PT dizendo que tinha interesse em fazer a contribuição para o partido, e ele me indicou o que fazer”, disse o conselheiro da Toyo Setal.
Mendonça Neto contou que Renato Duque pediu que fossem feitas outras doações e admitiu que esteve com Vaccari mais de uma vez. “Tenho todos os comprovantes detalhados. [Estive reunido com o ex-tesoureiro] algumas vezes. Talvez dez. O que acontecia é que os valores que me comprometia a pagar eu parcelava. Muitas vezes, a gente atrasava porque tinha problema de caixa”, destacou o empresário.
Segundo ele, uma das orientações passadas por Vaccari foi para que usasse parte do dinheiro doado em contratos com a gráfica Atitude, responsável pela produção da publicidade do PT. “Vaccari me indicou que fizesse contratos com essa revista e [disse] que teríamos oportunidade, na revista, de defender questões ligadas à indústria. Fizemos dois contratos com essa editora que produz a revista e pagamos por eles”. Os dois contratos somaram US$ 2,5 milhões, informou o empresário.
Ele negou que Vaccari e Duque tenham feito qualquer ameaça para garantir o pagamento da propina. No caso do ex-diretor, mesmo sem ter verbalizado, o empresário disse que era claro que a contribuição era a condição para não ser atrapalhado nas licitações. A mensagem era: "contribua que vou te ajudar”. Mendonça Filho admitiu que fez doações para outros partidos, mas que, nesses casos, não teve qualquer indicação do esquema e que era uma prática das empresas.
Mendonça Neto disse que nunca entregou dinheiro diretamente a qualquer dos ex-diretores da estatal. “[Duque e Barusco] me indicaram a conta para que pudesse fazer depósitos ou retirar valores”, informou. Alguns depósitos foram feitos pelo empresário Júlio Camargo, com quem Mendonça Neto mantém negócios. Segundo ele, Camargo depositou valores em uma conta de Duque mantida no exterior e que era a fonte da maior parte da comissão paga ao ex-diretor.
No caso de Paulo Roberto Costa, segundo ele, o pagamento indireto foi feito por meio de notas fiscais emitidas pelo doleiro Alberto Youssef, a quem foi apresentado pelo ex-deputado José Janene, em 2007, quando disse ter firmado contratos com a estatal. “Youssef disponibilizou notas fiscais que nós pagaríamos e o dinheiro seria entregue a ele. Ele me apresentou as empresas M.O., Rigidez e outra de que não recordo o nome. Fizemos contratos com essas empresas e pagávamos a elas, mas quem ligava para cobrar era o Youssef”, afirmou.
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