O pensamento que intitula esse artigo não é meu, portanto, não é algo original, apesar de sua essência ser super pertinente e atual. Ele nos remete a um dos pensadores clássicos da humanidade, considerado um dos homens mais sábios do catolicismo e que continua exercendo grande influência nas discussões filosóficas e sociais: Tomás de Aquino.
Tomás de Aquino afirmava: “tenho medo do homem de um só livro (de uma só ideia) ”, numa referência àquelas pessoas que, mesmo sendo leitoras assíduas, não se permitem ler obras que podem contradizer suas ideias e pensamentos. Pelo contrário, buscam apenas enraizar, a todo custo, seu modo de pensar, criando uma ideia fixa e imutável, e o pior, podendo assim, gerar o risco de uma prática ditatorial de imposição da sua forma de pensar aos outros. Algo também tão comum.
Mas lendo esse texto, poderia surgir um questionamento: não seria interessante buscar à todo momento argumentos que justifiquem nossas ideias? Com toda certeza sim. Mas na mesma direção, não podemos nos furtar de progredir e evoluir em nossos pensamentos, algo que somente o contraditório pode nos oportunizar.
Pois como diriam os filósofos gregos Sócrates e Platão, no milenar método dialético, a síntese, portanto a possível conclusão de um assunto, só nasce do confronto de divergências e contradições (tese x antítese); e não de um arcabouço ideológico que só converge para uma mesma direção, sem permitir ou fomentar a reflexão das contradições.
É importante perceber que esse movimento dialético não tem fim, devido a vários motivos, entre eles, momento histórico, condições culturais, o próprio desenvolvimento intelectual e outras infinitas variantes. O que importa, ou deveria de fato importar, é permitir-se caminhar na direção da síntese. O que não tem sido uma tarefa fácil num mundo tão tomado pelo fanatismo e/ou fundamentalismo, das mais diversas correntes, sendo elas: religiosas, políticas, econômicas, educacionais...
Ao evitar a dialética, não conseguimos enxergar os erros e contradições dos nossos pensamentos, algo que nunca vai deixar de existir, mas que só se torna superável quando enxergado. Pois como diria Cícero, outro nome importante da nossa história, a sobrevivência da própria democracia consiste na dialética, no reconhecimento dos erros e na mudança consciente de ideias. Que pode ser exemplificado pelo famoso cantor Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
O ser humano de um livro (ideia) só, corrói os princípios democráticos, cultiva os extremismos, provoca a falsa rivalidade e cria o abismo da intolerância. Todavia, de forma covarde e desumana, perpetua os aparatos sociais, que no fundo só agrada a quem continua dominado e/ou ditando as regras do jogo, seja ele de que extremo for.
E termino esse texto parafraseando um outro pensamento de Tomás de Aquino: quer perder um amigo extremista? Basta simplesmente não concordar com ele e/ou mostrar um ponto divergente.
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