Metanol: crise completa um mês com 58 casos e 15 mortes confirmadas no país
Falsificação de bebidas é apontada como origem da contaminação; governo mantém comitê de emergência e reforça testagem laboratorial
Belo Horizonte – A contaminação por metanol em bebidas alcoólicas completa um mês nesta semana com 58 casos confirmados e 15 mortes no país. O surto, que começou em 26 de setembro, mobilizou autoridades sanitárias, policiais e equipes médicas em todo o Brasil. A principal causa identificada é a falsificação de bebidas, nas quais foi usado álcool combustível adulterado com metanol.
Desde os primeiros nove casos notificados pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas, a rede de vigilância foi reforçada. Hospitais de referência foram preparados também fora das áreas com registros de contaminação, especialmente em estados das regiões Norte e Centro-Oeste.
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, confirmou que a contaminação evoluiu rapidamente. Em menos de vinte dias, o número de casos saltou para 58, com predomínio no estado de São Paulo, onde ocorreram nove das quinze mortes.
Combate e investigações
As investigações apontam que bebidas falsificadas foram envasadas com álcool combustível contaminado. Em 17 de outubro, uma operação da Polícia Civil de São Paulo identificou dois postos de combustíveis que venderam o produto adulterado. O delegado-geral Artur Dian afirmou que o trabalho de rastreamento segue em curso.
“O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, disse Dian.
A investigação começou após a internação de um homem na zona sul de São Paulo, que havia consumido uma das bebidas falsificadas. A partir desse caso, os policiais chegaram também à distribuidora onde os produtos eram envasados.
Respostas e medidas emergenciais
Em 07 de outubro, o governo federal criou um comitê de emergência para coordenar as ações contra a contaminação. No mesmo dia, foram enviadas novas remessas de etanol farmacêutico aos hospitais de referência e adquirido o antídoto fomepizol, usado no tratamento de intoxicações por metanol.
Um dia depois, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou que o metanol nas bebidas analisadas havia sido adicionado artificialmente, em níveis muito acima dos encontrados em processos normais de destilação. No dia 09 de outubro, a Polícia Técnico-Científica adotou um novo protocolo de análise, reduzindo o tempo de identificação de bebidas adulteradas.
O estado conta hoje com dois centros de referência: o Ciatox de Campinas e o Laboratório de Toxicologia Analítica Forense (Latof), da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
Segundo a Abrasel, o setor de bares e restaurantes registrou queda de até 5% no consumo de bebidas alcoólicas em setembro, reflexo do medo entre consumidores e da fiscalização intensificada.
Avanços tecnológicos e novos alertas
Pesquisadores do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram um “nariz eletrônico”, capaz de identificar metanol em bebidas a partir de uma única gota.
“O nariz eletrônico transforma aromas em dados. Esses dados alimentam a inteligência artificial que aprende a reconhecer a assinatura do cheiro de cada amostra”, explicou à Agência Brasil o professor Leandro Almeida.
De acordo com o último boletim, divulgado na sexta-feira (24), há 58 casos confirmados, 50 em investigação e 635 notificações descartadas. As 15 mortes registradas ocorreram em São Paulo (nove), Paraná (seis) e Pernambuco (seis). Outros nove óbitos seguem sob análise.
O tema também chegou ao Legislativo. Em São Paulo, uma CPI sobre a falsificação de bebidas será instalada nesta terça-feira (28). Já na Câmara dos Deputados, o PL 2307/07, que transforma em crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas, pode ser votado ainda nesta semana.
*Com informações da Agência Brasil
Comentários