Coluna

UM JORNALISTA INGÊNUO

eleitor caveira esperando por mudança
Mudança - (Nani)

Rio - Sou um ingênuo, confesso.

A pandemia exigiu algumas decisões difíceis do governo, mas nenhuma foi mais angustiosa do que a que obrigou o presidente Bolsonaro a demitir o general Pazuello.

Tão dura e difícil, que o presidente já procura um cargo no governo para enfiar o paraquedista. “O general fez um belíssimo trabalho no meu governo”, disse Bolsonaro. “Estou pensando em colocá-lo na economia”, concluiu.

Um jornalista perguntou porque o presidente achava que Pazuello seria um Ministro da Economia melhor que o Posto Ipiranga.

- Já pensou se ele joga lá pra cima os números da economia, como fez com os números de mortos? - indagou o presidente.

Embora o presidente pudesse ter ouvido os partidos que o apoiam, o Centrão, a população, a comunidade científica e até o bom senso, e convidar a médica Ludhmila Hajjar, Bolsonaro optou pelo cardiologista Marcelo Queiroga, de idéias mais flexíveis e amigo de seus filhos.

Ainda assim, eu acreditei que o presidente, finalmente, tinha mudado sua postura frente a grave pandemia que assola o país e o mundo. Afinal, ao menos Queiroga era um médico e não um paraquedista, como o anterior.

Na guerra contra o vírus, imaginei que o Presidente da República reuniria os presidentes da Câmara e do Senado, os governadores de Estado e os prefeitos das principais capitais do país para montar uma força tarefa nacional de combate ao covid-19.

Que daria ao novo ministro carta branca para montar sua estratégia de combate à pandemia. Que, finalmente, com um médico no comando do Ministério da Saúde, abandonaria as atitudes negacionistas, a luta contra a vacina e apoiaria o lockdown nacional, única forma de conter o avanço do vírus, enquanto a vacina não chega em números suficiente para toda a população.

Imaginei, também, que finalmente o presidente iria se conscientizar de que não basta só pensar na economia. A economia do país é, sim, importante, mas é preciso também proteger vidas humanas. Afinal, mortos não trabalham em fábricas, não dirigem caminhões, não plantam cana de açúcar, não produzem riquezas.

No máximo, batem ponto em gabinetes de vereadores e deputados, engordando a conta bancária dos políticos.

Acreditei em uma mudança de postura do presidente. Que ingenuidade a minha! Certas pessoas não mudam nunca. O poder corrompe.

Bolsonaro já avisou que Queiroga vai continuar a “gestão vitoriosa” de Pazuello. Já voltou a recomendar o uso da cloroquina e ingressou com uma ação pedindo ao Supremo Tribunal Federal que barre o toque de recolher adotado por governadores para conter o avanço da pandemia nos Estados.

Inclusive, pasmem, como o Queiroga não tem nada para fazer - quem comanda a pasta é o presidente -, Bolsonaro mandou ele fazer uma ronda pelos hospitais para verificar se tem algum vivo se fingindo de morto, só para aumentar as estatísticas.

Nossa única esperança é que um dia, quem sabe, Bolsonaro se apaixone pela Flordelis.

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