Ato na Avenida Paulista reúne 12 mil apoiadores de Bolsonaro contra julgamento no STF
Manifestantes pediram anistia a presos do 8 de janeiro e criticaram governo Lula

São Paulo - Com gritos de “mito” e pedidos por anistia, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (29), em um ato de protesto contra o julgamento que ele enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. A manifestação, batizada de "Justiça Já", também fez críticas ao governo Lula, exaltou aliados políticos e ecoou discursos religiosos.
De acordo com levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common, a manifestação reuniu cerca de 12,4 mil pessoas — número inferior ao último ato bolsonarista realizado na Paulista, em abril, que teve cerca de 45 mil participantes, segundo a mesma metodologia, baseada em imagens de drones e inteligência artificial.
Foco no julgamento de Bolsonaro
O ato na Avenida Paulista ocorre em meio ao avanço do processo que investiga Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado. Na última sexta-feira (27), o ministro Alexandre de Moraes, do STF, abriu oficialmente o prazo para a fase de alegações finais na ação penal que envolve o ex-presidente e outros sete réus, incluindo militares e ex-ministros.
Essa etapa processual ocorre após a conclusão da fase de produção de provas. A partir da intimação formal das partes, os prazos correm da seguinte forma:
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A Procuradoria-Geral da República (PGR) tem 15 dias para apresentar suas alegações finais, ou seja, o parecer final com base nas provas colhidas e o pedido de condenação ou absolvição dos acusados;
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Em seguida, Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e delator do caso, também terá 15 dias para apresentar suas alegações de forma individual, como colaborador premiado;
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Na última etapa, as defesas dos demais sete réus, incluindo Bolsonaro, terão mais 15 dias para entregar suas alegações finais.
Com o encerramento dessa fase, o processo estará pronto para ser julgado pela Primeira Turma do STF, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino.
Todos os oito réus respondem por cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado por violência e deterioração de patrimônio tombado. Se condenados por todos os crimes, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
Discursos: anistia, política e críticas ao STF
Bolsonaro subiu ao caminhão de som posicionado em frente ao Parque Trianon e voltou a defender a anistia aos presos pelos ataques do 8 de janeiro. “Apelo aos três poderes da República para pacificar o Brasil. Liberdade para os inocentes do 8 de janeiro”, disse, chamando a anistia de "remédio previsto na Constituição".
Em tom eleitoral, embora inelegível até 2030 por decisão do TSE, Bolsonaro pediu que seus apoiadores elejam metade do Congresso Nacional em 2026. “Se queremos que o nosso time seja campeão, temos que investir e acreditar”, afirmou.
O pastor Silas Malafaia, organizador do ato, atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de “ditador”. Também desqualificou a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, peça-chave na investigação do STF.
Além dele, três governadores aliados marcaram presença: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Jorginho Mello (SC). O mais aplaudido foi Tarcísio, que fez duras críticas ao governo federal. “Em dois anos e sete meses, destruíram tudo. O Brasil não aguenta mais o gasto desenfreado, a corrupção, o governo gastador e o juro alto”, afirmou. Em sua fala, o governador paulista também defendeu a anistia aos condenados pelos atos golpistas.
Os manifestantes vestiam roupas nas cores da bandeira nacional e empunhavam cartazes pedindo "liberdade", "anistia" e "fim da ditadura do Judiciário". Havia também bandeiras de apoio a Israel e aos Estados Unidos — países frequentemente citados por Bolsonaro em discursos políticos e religiosos.
A manifestação ficou concentrada entre o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Rua Peixoto Gomide. Uma segunda concentração ocorreu diante da sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também na Paulista.
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