A selvagem brutalidade da qual foi vítima a estudante Gabriella Talhaferro, de 16 anos, que ficou cega do olho esquerdo por um tiro de bala de borracha disparado por um soldado da Polícia Militar, dia 10/11, não tem ainda investigação oficial da Secretaria de Segurança Pública. Contou a estudante que “eles (os PMS) debocharam de mim, enquanto eu sangrava, e não me prestaram socorro”. Ao site a Ponte, que defende os direitos humanos por meio de jornalismo independente e profissional, ela disse que “estava em frente à adega quando tomei o tiro; os PMs vieram numa viatura, pararam na rua e quando virei o rosto o soldado atirou; estavam bem na minha frente; ele nem desceu do carro; mirou no meu rosto e atirou”.
A estudante do primeiro ano do Ensino Médio tinha saído de casa para encontrar amigos e ir para o Baile do Beira Rio, como é conhecida a festa de rua que reúne jovens nas noites de sábado para domingo, oriundos de diferentes bairros do lado leste da capital paulista e de cidades na região metropolitana. Gabriella e os amigos foram informados de que não haveria o tradicional baile, pois a PM se encontrava no local para impedir a sua realização, próximo da estação de trem de Guaianases. Como trens deixaram de circular, e também os ônibus, ela e os colegas decidiram ficar em frente a uma adega, numa prevenção contra as ações da PM. Porém, naquele local, ela acabou sendo alvejada de propósito.
Ensanguentada, com dores, os PMS se recusaram a encaminhá-la para atendimento médico, sendo que um dos soldados, disse a estudante, “ria o tempo todo da situação”. E quando meus amigos pediram para ligarem para o socorro, eles disseram: “se vira”. Gabriella afirmou que é capaz de reconhecer os PMS. O proprietário da adega, então, ligou para um motorista de Uber e ela foi levada para a UPA de Itaquera, de onde seguiu para o hospital em Ermelino Matarazzo. E de lá, sem atendimento, somente conseguiu ser medicada algumas horas depois no Hospital São Paulo, na Vila Mariana, distante 30 quilômetros de onde foi baleada.
Um dos amigos da estudante, o modelo Gabriel Bueno, de 22 anos, contou à Ponte que se recusou a ir ao baile por ter sido atingido com tiro de bala de borracha numa das pernas, há dois anos, no baile do Pantanal.
Através de nota à imprensa, a SSP, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos, no governo de João Doria, relatou que “a Polícia Militar esclareceu que, em 9/11, soldados do 28º BPM faziam a operação ‘Noite Tranquila’, com o objetivo de coibir ocorrências de perturbação de sossego, quando foi necessário o uso de técnicas de controle de distúrbios para conter a multidão. Até o término da ocorrência não havia relato de pessoas feridas, mas, ao tomar conhecimento do caso citado em reportagem, o comando do 28º BPM instaurou procedimento apuratório para investigar as circunstâncias; e até o momento a Polícia Civil não localizou registro de boletim de ocorrência sobre o fato”.
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