Coluna

Brumas do tempo

 

Em 25 janeiro de 2019, às 17h28, um pai não vai mais voltar para casa e sentar ao lado do filho. 

Simultaneamente, a avó que costumava preparar o lanche do neto, não irá fazê-lo quando o relógio bater às 18h. Tampouco o neto vai voltar da escola naquele dia.
 
Um pouco mais tarde, às 19h35, com o dia se tornando noite, o jovem Leonardo, de 22 anos não vai se arrumar para ir na festa de um amigo de infância.
 
Segunda feira, 28 de janeiro às 14h34, uma tia que não tem notícias de dois sobrinhos, relembra os versos da canção ”abrir o peito a força, numa procura”.  É procura a palavra de ordem naquela região.
 
Uma semana depois, dia 4 de fevereiro, 7h da manhã. Nem um minuto a mais ou a menos, o sorridente Willian, de 36 anos não vai aparecer no trabalho. Na lembrança de todos, fica o bom humor daquele jovem trabalhador.
 
Quatro meses na frente, a grávida Fernanda não terá sua filha no colo. Cinco meses antes, as duas se foram juntas.
 
No próximo feriado, mais precisamente numa quinta-feira, o telefone da pousada não irá mais tocar, não se faz mais reservas ali.
 
Dia 17 de dezembro é quando se comemora o aniversário da cidade onde tudo isso aconteceu, esse ano de 2019 a comemoração terá bem menos sorrisos ... e pessoas também.
 
As brumas que se formam pela manhã, dando nome a cidade, agora parecem um choro silencioso. Como se as mesmas borrassem o olhar, dificultando o entendimento de tamanha tragédia.
 
Quase duas semanas atrás. Tarde de 25 de janeiro de 2019. Exatamente um mês depois do Natal. Em Brumadinho, nada nasceu naquele dia 25. Muito pelo contrário, o direito à vida se rompeu para Carlos, Francis, Daniel, Marcele, Camila e tantos outros.
 
A última a morrer naquele local se chama Esperança, essa se mantém firme na procura, no olhar e na fala de quem ainda acredita que um dia, as brumas serão de alegria e sorrisos.
 
Esse texto é em homenagem à todas as vítimas da tragédia que aconteceu na cidade de Brumadinho – MG. O Brasil inteiro de luto!

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