Levava o inimigo morto nas costas,
Sem remorsos e sem orgulho.
Os transeuntes pareciam não se importar,
Cumprimentavam-no tirando os chapéus,
- Bom dia, Jurandir.
- Bom dia, Seu Nino.
- Bom dia, Jurandir.
- Bom dia, Seu Zezo.
E seguia Jurandir com seu morto,
Haveria de cavar cova rasa, sem grande esforço,
Que virasse carniça pra urubu,
"Morreu porque quis o estorvado. Teimoso de uma mula!"
Mas, no final do caminho, havia um menino de braços abertos e riso corado.
E o menino era ele, Jurandir de Paula Solto.
Era ele menino.
Bonito como uma pera,
Forte e rijo.
Queres o morto? Perguntou Jurandir a si menino.
Não, o morto é teu.
Jurandir, homem, olhou-o confuso, admirado, admirando-o.
Jurandir, menino, olhou-o, pragmático, indiferente.
E partiu, dizendo, enquanto se distanciava de si homem,
O morto oto oto oto... é teu eu eu eu...
O morto oto oto oto... é teu eu eu eu...
O morto oto oto... é teu, eu eu...
O morto oto... é teu, eu...
O morto é teu.
O morto teu...
O morto eu...
O morto...
Eu...
Eu?
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