O professor da rede pública estadual, Júlio César do Couto, teve a sua casa no bairro Fênix invadida pela Polícia Militar, no último dia 6, por volta das 22 horas. Segundo o professor, ele havia acabado de chegar em casa e ido direto para o banho quando os policiais chegaram e começaram a bater forte em seu portão. De acordo com o professor, assustado com as batidas, apressou-se em sair do banho para ver o que estava acontecendo. Foi quando percebeu o vulto de um policial já sobre o beiral do segundo andar, forçando a janela da cozinha. Não conseguindo, seguiu andando sobre o estreito beiral até acessar a varanda da frente e entrou pela janela da sala, quando deu de cara com o professor que também se dirigia para aquele cômodo. De arma em punho, o policial ordenou ao professor que colocasse as mãos para o alto e encostasse na parede. Segundo o professor, ele tentou argumentar com o policial por várias vezes questionando-lhe o que estava acontecendo, mas percebeu que não adiantava, pois, o policial apenas o repreendia dizendo: “Não finja de bobo seu pilantra. Pegue a chave e vai de mão para cima até a varanda e jogue na rua. Mostra qual chave abre o portão”.
Segundo Júlio Couto, acuado, saiu então sob a mira da arma diante da população que se aglomerou para ver o que estava acontecendo e jogou as chaves para os policiais que também subiram. Só a partir daí, depois de revistar toda a casa, pedir seus documentos e revistar uma amiga que se encontrava com ele na residência, é que os policias informaram o que estava acontecendo. Segundo o professor, depois de o expor como bandido para a população e colocá-lo em grande constrangimento diante da sua amiga, o acusando de estuprador, os policiais enfim perceberam o erro que estavam cometendo e pediram-lhe desculpas dizendo que aquela ação dura contra ele é porque haviam recebido uma denúncia anônima de que ali estaria acontecendo estupro de vulnerável, versão que o professor não acredita.
Segundo Júlio Couto, pouco antes da invasão ele havia chegado em casa acompanhado de Raissa Maria Eduarda de Oliveira, 19 anos, que é neta de uma grande amiga da família. A avó de Raissa havia pedido ao professor uma carona para levar a garota até o centro da cidade e ele se prontificou, dizendo apenas que antes teria que passar em casa para tomar um banho e foi o que aconteceu. O professor não acredita em denúncia anônima porque Raissa e sua família tem costume de frequentar a sua casa e é conhecida na vizinhança.
A nossa reportagem esteve no local e conversou com vizinhos, alguns inclusive ex-alunos do professor que também moram próximo e presenciaram o fato. De acordo com vizinhos que gravaram entrevista, os policias não deram tempo ao professor para que atendesse o portão. Segundo eles, primeiro chegou uma viatura e depois outra e já desceram gritando e socando o portão. Como o professor não apareceu de imediato, os policias fizeram uma “escadinha” para um deles escalar o segundo andar, apontando as marcas de botina na parede.
Na segunda-feira (8) o professor foi ao quartel para pegar o boletim de ocorrência e ficou surpreso, segundo ele, quando viu no boletim relatos que não eram verdadeiros. O boletim informava que o professor franqueou a entrada dos policiais, o que segundo ele e vizinhos não é verdade. Também não consta o nome do policial que escalou a parede, invadindo a residência pela janela do imóvel.
Segundo Júlio, ao solicitar a correção do boletim foi tratado com rispidez por um policial que o repreendeu dizendo que se ele não gostou, achou que a abordagem foi dura, na hora que fosse abordado na rua seria colocado “de cara no asfalto”, que é assim que a polícia trabalha.
Júlio procurou então a Polícia Civil e refez o boletim de ocorrência, desta vez, segundo ele, narrando a verdade dos fatos que pode ser comprovada por qualquer vizinho, levando ainda o caso ao conhecimento do Ministério Público.
O professor disse ainda para nossa reportagem que depois do episódio não conseguiu mais dormir direito no imóvel, passou noites em claro e quando dormia acordava assustado. Por isso planeja se mudar em busca de paz, mesmo contando com a solidariedade de todos os vizinhos, os quais agradece muito.
Quem é Júlio Couto
O professor em questão, Júlio César do Couto, nasceu na Mata Grande, zona rural de Senhora do Carmo. Filho de família humilde, Júlio cursou o ensino fundamental na escola rural de Bom Jardim, revezando entre o estudo e o trabalho pesado do campo. Depois, em busca de uma vida melhor para si e seus pais, Júlio mudou-se para Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, onde foi trabalhar como trocador. Lá, concluiu o ensino médio e cursou faculdade na PUC Minas.
Enquanto Júlio fazia faculdade e trabalhava em Contagem, também se envolveu na política. Participava do diretório acadêmico da faculdade e era um grande defensor do acesso a educação para pessoas carentes.
Depois de formado, Júlio retornou a Itabira e ingressou na rede municipal de ensino como coordenador escolar na zona rural e professor de informática nas escolas do Carmo e Ipoema. Depois ingressou no estado e foi trabalhar nos distritos. A sua preferência foi sempre pela zona rural com o sonho de oferecer para aqueles alunos o que não foi oferecido a ele na época em que estudou. O professor é elogiado entre os colegas de profissão e alunos e já teve vários projetos premiados na área da educação.
Com presença marcante na educação, Júlio começou também a militar em movimentos sociais em Itabira e logo tornou-se uma das grandes lideranças políticas do município. Assumiu a presidência de um partido e teve participação ativa nas formatações de coligações para eleger prefeitos e vereadores.
Na última eleição Júlio organizou uma coligação proporcional que elegeu vereador com a menor votação já registrada no município. Pelo seu partido, disputaram dois sargentos da Polícia Militar. Ele garante que na corporação tem muitos amigos e que este episódio não irá fazer ele perder a admiração que tem pela instituição Polícia Militar, que para ele é uma das melhores polícias do país. E garante que é exatamente por isso que decidiu não se calar contra a atitude de uns poucos que não se preocupam com a boa imagem da instituição.
Comentários