Coluna

Os Meus Ninguéns

Os meus ninguéns não são os ninguéns de Eduardo Galeano;
Os meus ninguéns, também filhos de ninguéns, pensam que são donos de tudo;
Os meus ninguéns vivem a vida explorando alguéns;
Os meus ninguéns, pouco são, embora acreditem muito ser;
A maioria dos meus ninguéns desconhece a própria língua, mas propaga estrangeirismos;
Muitos dos meus ninguéns são religiosos e supersticiosos; 
Vislumbrados e insensíveis, compram excentricidades por obra de arte,
Gastam exorbitâncias em shoppings centers
E pechincham artesanatos à beira-mar.
Os meus ninguéns não são humanos, mas aberrações humanas;
Desconhecem o significado de cultura, desprezam o folclore, mas se julgam cultos sobre todos os alguéns,
Eles não têm feições, têm maquiagens e plásticas;
Eles não conversam, encenam;
Eles não têm identidade, têm aparências;
Eles aparecem nas colunas sociais,
Mas valem menos do que a vaidade que os mata.

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