Brasil

Setor agropecuário alerta para perdas com tarifa dos EUA e apoia negociação do governo

Frutas, carne e café estão entre os produtos mais afetados; entidades pedem prorrogação ou exclusão de alimentos da medida

Valter Campanato / ABR - 

Brasília - Representantes do agronegócio brasileiro manifestaram nesta terça-feira (15) preocupação com os impactos da nova tarifa de importação anunciada pelos Estados Unidos e reforçaram apoio às negociações conduzidas pelo governo federal para tentar reverter a medida. O aumento das tarifas para 50% entra em vigor no dia 1º de agosto, por determinação do presidente norte-americano Donald Trump.

A reunião em Brasília contou com a participação dos ministros Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), além de lideranças dos setores de frutas, carne, café, sucos e pesca.

Entre as demandas apresentadas, as associações pediram prorrogação do prazo para início da cobrança, revisão das taxas ou, no mínimo, exclusão de alimentos da lista afetada. Os exportadores relataram perdas já registradas e dificuldades logísticas para redirecionar a produção a outros mercados.

Carne bovina

O presidente da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Perosa, disse que a nova tarifa tornaria inviável a exportação de carne bovina ao mercado norte-americano, que já impõe uma taxa de 36%. Com o aumento para 50%, frigoríficos começaram a suspender embarques.

“Nossa sugestão de imediato é a prorrogação do início da taxação. Existem contratos em andamento. Precisamos de prorrogação ou retorno à situação anterior”, afirmou Perosa. Segundo ele, cerca de 30 mil toneladas de carne já estão em trânsito ou prontas para exportação nos portos.

Frutas

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho, classificou o cenário como crítico, especialmente para os produtores de manga, que planejaram a atual safra com meses de antecedência.

“Foram contratados 2,5 mil contêineres para a exportação aos EUA. Uma hora dessa não podemos pegar essa manga e jogar na Europa. Não tem logística para isso. Não podemos colocar essa manga no Brasil porque vai colapsar o mercado. Urge uma definição, o consenso, a flexibilidade”, declarou Coelho.

Laranja e sucos

Para o setor de sucos cítricos, os Estados Unidos são o principal mercado. De acordo com Ibiapaba Netto, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), 70% do suco de laranja importado pelos EUA vem do Brasil, e 40% das exportações do setor são destinadas ao mercado norte-americano.

“Ainda tem tempo para negociação. Temos confiança de que o governo vai alcançar um bom resultado. Precisamos de diálogo, negociação e pragmatismo”, afirmou Netto.

Café

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcio Ferreira, destacou que um terço do café consumido nos EUA é brasileiro. Para ele, a medida coloca em risco a competitividade do produto e pode afetar a cadeia produtiva.

“O café brasileiro é o mais competitivo. Traz o corpo e a doçura que o café de outras origens não tem. O consumidor está satisfeito e feliz com o café do Brasil. Vamos achar uma solução e ela será benéfica para todos”, afirmou Ferreira, que também elogiou o trabalho do governo para abertura de mercados.

Apoio à diplomacia

Os representantes do setor reforçaram apoio ao vice-presidente Geraldo Alckmin e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas tratativas com os EUA. A avaliação conjunta é de que retaliações não seriam estratégicas neste momento, e que o diálogo deve prevalecer até que uma solução comercial seja alcançada.

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