Rio de Janeiro - O jornalismo estava em luto. Ricardo Boechat, uma das vozes mais aclamadas, respeitada, reverenciada e querida do jornalismo brasileiro, tinha morrido naquela tarde de 11 de fevereiro de 2019, em um acidente de helicóptero na Rodovia Anhanguera, em São Paulo.
Um dos mais brilhantes jornalistas do país, Boechat não fazia distinção entre ricos e pobres, poderosos e anônimos. Sua morte prematura encerrou uma carreira pautada por coragem, indignação, credibilidade e paixão.
Eu tinha acabado de escrever um longo texto sobre o querido amigo de profissão, quando, dias depois, recebi o gostoso livro “Toca o Barco” (Editora Máquina de Livros - 175 págs.)

O livro - lançado em 2019, poucos meses depois do trágico acidente - reúne textos inéditos de 28 jornalistas que conviveram com Ricardo Boechat. Além de ilustrações de André Hippertt, Aroeira, Chico Caruso e Cláudio Duarte, cartunistas que trabalharam em redações de jornais e revistas com Boechat.
“Toca o Barco” traz um resumo da trajetória do jornalista Ricardo Eugênio Boechat - nascido em 13 de julho de 1952, em Buenos Aires, filho de Dalton, um professor de literatura e de dona Mercedes, uma dona de casa nascida na Argentina e criada no Uruguai - desde seu primeiro emprego no “Diário de Notícias”, em 1969, até seu último trabalho na Rádio BandNews. São testemunhos e depoimentos que espelham e ajudam a entender sua multifacetada figura que, ao longo de seus 66 anos de vida, fez do seu ofício um sacerdócio.
Conheci Boechat na Praia do Leblon, em frente a Rua José Linhares, na rede onde seu filho jogava futevôlei com o meu. Falamos sobre jornalismo e futebol, suas duas paixões. Não convivemos muito, mas tínhamos aquele relacionamento de velhos companheiros de profissão e de geração.
Boechat, peladeiro fanático, era assíduo frequentador da pelada do “Caldeirão do Albertão”, futebol organizado pelo amigo Aziz Ahmed, no Grajaú. Cabeça de área, era daqueles peladeiros ranzinza que prendia a bola e reclamava demais. De tanto reclamar, ganhou dos amigos o apelido de “Boechato”. O apelido pegou.
Apaixonado pelo jornalismo, no futebol, suas paixões eram o Flamengo e o Canto do Rio, de Niterói, cidade onde morou até os 31 anos.
O livro, editado por Bruno Thys e Luiz André Alzer, é cheio de histórias do Boechat, contadas pelos amigos que conviveram e trabalharam com o jornalista. São bastidores e episódios inéditos, alguns tensos, curiosos e outros divertidos.
Aqui, um destes “causos”, narrado pelo jornalista Maurício Menezes, que trabalhou com Boechat na sucursal carioca do “Estado de São Paulo”:
Em uma das colunas que escreveu para o jornal “O Globo”, Boechat fez uma alusão ao flautista Altamiro Carrilho e escreveu “saudoso” por achar que o flautista tinha morrido.
No dia seguinte, o telefone toca na redação do jornal carioca. Boechat atende.
- Alô, Boechat? Aqui é o “saudoso” Altamiro Carrilho!
- Altamiro, meu irmão, me desculpe. Eu peço a Deus que me leve antes de você, porque eu não gostaria de anunciar duas vezes a sua morte.
Em geral, era assim que Ricardo Boechat reagia quando cometia algum erro. Corrigia na hora. Às vezes, com ironia ou sarcásmo, mas sempre de bom humor.
Ricardo Boechat construiu uma legião de admiradores ao longo de 50 anos de atuação em jornais, no rádio e na TV.
Com depoimentos de nomes como Ancelmo Gois, Anna Ramalho, Aziz Ahmed, Fernando Mitre, Datena, Joaquim Ferreira dos Santos, José Simão, Leilane Neubarth, Milton Neves e Angela de Rego Monteiro, entre outros, “Toca o Barco” é um livro indispensável para jornalistas, estudantes de comunicação e admiradores desse que foi um dos mais brilhantes jornalistas do país.
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