Brasil

STF decide se Bolsonaro e aliados serão réus por tentativa de golpe

Julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal pode abrir caminho para processo penal contra ex-presidente e aliados

Jair Bolsonaro e Braga Neto
Marcos Correa / PR - 

Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, nesta terça-feira (24), às 9h30, o julgamento que determinará se o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados se tornarão réus por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado. O caso será analisado pela Primeira Turma da Corte, formada por cinco dos 11 ministros do tribunal.

Caso a ação avance, Bolsonaro e seus aliados responderão a um processo penal que pode resultar em condenação ou absolvição. A acusação foi apresentada em fevereiro deste ano pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e envolve oito dos 34 denunciados no caso, denominados como "Núcleo 1" da suposta trama.

O grupo denunciado é composto pelos seguintes nomes:

  • Jair Bolsonaro – ex-presidente da República;

  • Walter Braga Netto – general de Exército, ex-ministro e candidato a vice-presidente em 2022;

  • General Augusto Heleno – ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;

  • Alexandre Ramagem – ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);

  • Anderson Torres – ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;

  • Almir Garnier – ex-comandante da Marinha;

  • Paulo Sérgio Nogueira – general do Exército e ex-ministro da Defesa;

  • Mauro Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator.

Julgamento e Procedimentos

O julgamento ocorrerá na Primeira Turma do STF, composta pelo relator Alexandre de Moraes e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Conforme o regimento interno do tribunal, as turmas são responsáveis pelo julgamento de ações penais.

A sessão começa às 9h30 e inclui uma pausa para o almoço, retomando às 14h. Se necessário, o julgamento continuará na quarta-feira (26). O rito prevê a apresentação do caso pelo relator, sustentações orais da Procuradoria-Geral da República (PGR) e das defesas, além da votação dos ministros.

O regimento interno do Supremo prevê o rito do julgamento que será seguido:

  • Abertura: ministro Cristiano Zanin, presidente do colegiado, fará a abertura da sessão;
  • Relatório: em seguida, Alexandre de Moraes vai ler o relatório da denúncia, documento que resume as acusações, as manifestações das defesas e a tramitação ocorrida no caso;
  • PGR: o procurador-geral fará sua sustentação oral para defender que os acusados virem réus. O prazo será de 30 minutos;
  • Defesas: advogados dos oito denunciados terão 15 minutos cada um para realizar as defesas dos acusados;
  • Relator: palavra voltará para Moraes, que proferirá voto sobre questões preliminares suscitadas pelas defesas (pedidos de nulidade de provas, alegações de falta de acesso a documentos);
  • Votação: demais ministros votarão as questões preliminares;
  • Mérito: encerradas as questões preliminares, Alexandre de Moraes iniciará voto de mérito para decidir se os acusados se tornarão réus;
  • Votos: demais ministros decidirão se acompanham ou não o voto de Moraes;
  • Encerramento: após a votação, o julgamento será encerrado.

Acusação e Possíveis Crimes

A PGR alega que Bolsonaro liderou uma organização criminosa para atentar contra a ordem democrática. Segundo a denúncia, entre julho de 2021 e janeiro de 2023, o grupo teria planejado um golpe de Estado, incluindo o chamado plano "Punhal Verde Amarelo", que envolvia ações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

Os crimes atribuídos incluem:

  • Organização criminosa armada (pena de 3 a 8 anos de prisão);

  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos);

  • Golpe de Estado (4 a 12 anos);

  • Dano qualificado por violência e grave ameaça (6 meses a 3 anos);

  • Deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos).

Defesa e Impasses

Os advogados de Bolsonaro alegam que a delação de Mauro Cid deve ser anulada e pediram o afastamento dos ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino do julgamento. A defesa também reivindicou acesso integral às provas e que o caso seja analisado pelo plenário completo do STF, e não pela Primeira Turma.

Próximos Passos

O STF ainda decidirá, nas próximas semanas, se outros 26 acusados, pertencentes aos "Núcleos 2, 3 e 4" da denúncia, também se tornarão réus. A divisão do caso em partes foi uma estratégia da PGR para facilitar o julgamento.

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