“Fogo!… Queimaram Palmares, nasceu Canudos.
Fogo!… Queimaram Canudos, nasceu Caldeirões.
Fogo!… Queimaram Caldeirões, nasceu Pau de Colher.
Fogo!… Queimaram Pau de Colher…
E nasceram, e nasceram tantas outras comunidades,
que os vão cansar se continuarem queimando.
Porque mesmo que queimam a escrita,
Não queimarão a oralidade.
Mesmo que queimem os símbolos,
Não queimarão os significados.
Mesmo queimando o nosso povo
Não queimarão a ancestralidade”
- Marineth, a 200ª edição das Crônicas do Athaliba é dedicada a um distinto e honrado cidadão brasileiro: Antônio Bispo dos Santos, mundialmente conhecido por Nêgo Bispo. É dele o poema acima “Fogo! Queimaram Palmares, nasceu Canudos”. Piauiense, nascido 10/12 de 1959, morreu dias antes de completar 64 anos, em 3/12 de 2023. Muito além dos poemas e livros, ele nos deixou um legado fundamental de ensinamento de vida em sociedade.
- Athaliba, que personagem é esse que ocê fala com distinção e o honra, em crônica?
- Marineth, antes de mais nada, preciso revelar que o nº redondo das crônicas publicadas n’O Folha de Minas era cogitado para abordar o escritor e compositor Nei Lopes. Ele me enviou, em novembro, os livros A última volta do Rio e A lua triste descamba. E, neste, na dedicatória, sinalizou: “Para o amigo Lenin Novaes, aguardando sua importante opinião sobre esta historinha”. O admiro muito e, distinguido pela amizade dele, sei que compreenderá o foco em Nêgo Bispo.
- Muito bem, Athaliba. Justificativa exposta, agora fale da distinta personalidade piauiense.
- Marineth, o espaço para descrever Nêgo Bispo na crônica não se aproxima da dimensão de grandeza dele na atuação da conjuntura política brasileira. Nenhum tiquinho. Obteve certidão de nascimento ao se registrar aos 12 anos. Palestrou em universidades pelo país, defendendo a importância de aprendermos com a vida nos quilombos. Foi lavrador e destacou-se como poeta, escritor e ativista do movimento quilombola e de direitos pelo uso da terra.
- Ele era de que núcleo quilombola, Athaliba?
- Marineth, ele nasceu no Vale do Rio Berlengas, povoado de Papagaio, atual Município de Francinópolis. E sempre enfatizou ter sido graduado pelos ensinamentos de mestras e mestres de ofício do quilombo Saco-Curtume, no Município de São João do Piauí. Foi o 1º integrante da família se alfabetizar. É autor de vários artigos, além de poemas e do livro Quilombos, modos e significados, reeditado com o título de Colonização, quilombos: modos e significados.
- O que se destaca na atuação dele em favor das comunidades quilombolas, Athaliba?
- Marineth, ele atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí - CECOQ/P - e na CONAQ - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas. Vale destacar que desenvolveu conceito de contracalonização. Contesta o modelo de desenvolvimento econômico ao qual o Brasil e os demais países da América Latina se submetem, submissamente.
- Isso é interessante, Athaliba. E tem aceitação no círculo universitário?
- Marineth, ele propõe, em contraposição de sociedade autodestruitiva, a opção civilizatória baseada na biointeração, que é a relação entre humanos e natureza de comunhão prazerosa. E o conceito passou a figurar nas ementas de cursos de graduação e pós-graduação em diferentes universidades do país.
- Sinto orgulho, Athaliba, do feito de Antônio Bispo dos Santos.
- Marineth, o espaço aqui, como lhe disse, é pequeno para projetar a grandeza da trajetória de vida de Nêgo Bispo. Sugiro lê a entrevista de André Gonçalves, Maurício Pokemon, Samária Andrade e Wellington Soares no link; https://revistarevestres.com.br/entrevista/comeco-meio-e-comeco/. Assim como a entrevista do meu amigo Eduardo Pontin, no Jornal de Todos os Brasis (GGN), no link: https://immub.org/noticias/nego-bispo-e-a-ancestralidade-dos-batuques-do-piaui.
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