Coluna

Cuba: vacina própria à vista!

- Athaliba, enquanto aqui no Brasil o combate à pandemia do COVID-19 se transforma em CPI; lá, em Cuba, o país que há décadas supera com garra e destemor o bloqueio desenfreado dos EUA, está próximo de conquistar a primeira vacina latino-americana contra o vírus que já matou quase três milhões de pessoas no planeta. Estima-se que dois imunizantes – Abdala e Soberana 02 – poderão imunizar a população daqui a três meses. Testes clínicos estão na última etapa e cientistas são otimistas quanto à aprovação pela Agência Nacional Reguladora de Cuba.

- Marineth, não é surpresa alguma o fato de Cuba conceber e produzir as primeiras vacinas anticovid-19 na América Latina. Afinal, a despeito de retrógrados simpatizantes da política hostil a Cuba praticada pelos EUA, o governo revolucionário de Cuba é reconhecido e admirado por sua política de diplomacia médica. São inúmeras as missões médicas enviadas a vários países, como aconteceu no Brasil, no período de 2013 a 2018. Chega a ser cômico, se não fosse trágico, pois o Brasil é o 2º país no mundo – salvo engano – com mais quantidade de faculdades de Medicina.

Médicos e enfermeiros de Cuba em cerimônia de despedida na Unidade Central de Cooperação Médica, em Havana, em março, antes de viajar a Andorra para ajudar na luta contra a pandemia do
Médicos e enfermeiros de Cuba em cerimônia de despedida na Unidade Central de Cooperação Médica, em Havana, em março, antes de viajar a Andorra para ajudar na luta contra a pandemia do COVID-19. Foto: Yamil Lage. 

- Athaliba, a diferença entre o Brasil e Cuba pode ser comparada aos lados singulares de uma moeda. Enquanto de um lado sobra desigualdade, corrupção e outras atrocidades políticas; do outro lado tem austeridade, fraternidade e justiça. Não é à toa que a direção da Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS -, imagine, considerou “um luxo e um privilégio que um país tão pequeno como Cuba tenha conseguido desenvolver cinco protótipos de vacinas e que dois deles se encontram na etapa final de ensaios clínicos, quando sua eficácia é testada”.

- Pois é, Marineth. O povo cubano se enche cada vez mais de orgulho pelas realizações do governo. Por outro lado, aqui, nossa tímida indignação ainda não é forte o suficiente para acabar de uma vez para sempre com a nefasta política que sucumbe a população há séculos.

- Athaliba, o representante da OPAS/OMS, José Moya, afirmou ao jornal El País, que “não se trata de milagre, pois existe um notável desenvolvimento científico em Cuba e uma experiência de 30 anos em fabricar vacinas”. Ele salientou que “tampouco por acaso a ilha foi o primeiro país a desenvolver vacina contra meningite, além de fabricar, desde o começo de 1990, vacina contra a hepatite B, que foi amplamente empregada na América Latina e na África”.

- Marineth, será que a Soberana 02 ou a Abdala poderão ser importadas pelo Brasil?

- Ah, Athaliba, quem dera! O epidemiologista peruano Moya diz que “vacinas deste tipo são as mais tradicionais e seguras, além de ter a vantagem de ser conservadas em temperatura de 2 a 8 graus”. Considera que “um ponto forte de Cuba é contar com agência reguladora sólida e de referência na América Latina, como é o caso do Centro para o Controle Estatal de Medicamentos, Equipamentos e Dispositivos Médicos, com o qual a OPAS colabora há anos”. É esse órgão que autorizará ou não o uso da Soberana 02 e da Abdala, inclusive em permitir o uso emergencial.

- Marineth, já me vacinei com a CoronaVac e tô à véspera da segunda dose. A chinesa é porreta. O efeito colateral é de mais disposição para a vida. Se realmente o COVID-19 veio para ficar entre nós, como prevê cientistas, vou me guardar (sobreviver) para a Soberana 02 daqui por diante.

- Oh, sorte, Athaliba! Os laboratórios da BioCubaFarma já despacharam mais de 300.000 doses da Soberana 02 e Abdala e os dirigentes afirmam que podem produzir até 100 milhões de ampolas antes do final deste ano. Espera-se que um dos imunizantes seja autorizado para iniciar a vacinação maciça a partir de julho ou agosto e, com isso, todos os cubanos poderão estar imunizados antes de 2022.

- Marineth, o desafio de Cuba ter vacina própria contra COVID-19 é um ato revolucionário, acima de prestígio científico no mundo. E não tenho dúvida de que alcançará esse objetivo. Pois tem sido assim a trajetória política de Cuba, desde a vitoriosa revolução de 1º de janeiro de 1959.

- Athaliba, às voltas com a conquista de vacina anticovid-19, o povo cubano prepara o ato de 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador, com o lema “Unidos: nós fazemos Cuba”, que será virtual. Ratificará a gratidão aos trabalhadores da Saúde e da Ciência pela dedicação de cuidar da vida de cubanos e cidadãos de mais de 46 países no mundo. O amor do povo a Cuba tá em “Amo esta isla”, de Pablo Milanés, no link https://www.youtube.com/watch?v=yjtv79uyKRI. Quero dedicar a canção à amiga Marília, que, após essa pandemia do COVID-19, possa ter a oportunidade de conhecer Cuba, a alegria do seu povo e se encantar com a beleza daquele país.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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