Coluna

O MALANDRO CARVANA

Há 10 anos morria Hugo Carvana

Arte - Jaguar.

Rio - A melhor caricatura do Hugo Carvana foi feita pelo Jaguar.

Taí - em cima - para provar.

E Jaguar - ótimo humorista, escritor e cartunista - nem é um grande caricaturista. Ele mesmo admite: “Quando tinha que fazer uma caricatura, copiava o Lan”.

Mas, no Carvana, ele caprichou. Talvez porque eram amigos. Andavam juntos. Bebiam juntos.

A caricatura foi feita para o rótulo de uma cachaça (Cachaça Carvana) que seria destilada e engarrafada na Fazenda Conserva, em Três Rios. Não sei se a Pinga saiu, mas o rótulo ficou para a posteridade e Carvana virou marca de cachaça e de bar em Cuba.

Justa homenagem. Carvana era o típico carioca. A síntese do malandro carioca. Uma vez, Jaguar disse, numa entrevista: “Se me pedissem um nome que sintetizasse o malandro carioca, não pensaria duas vezes: Hugo Carvana”.

O bar era o segundo lar do Carvana. A boemia fazia parte da sua vida. Vivia pelos bares onde tomava porres homéricos, regados a Cuba Libre.

O ator Hugo Carvana ficou conhecido do grande público na televisão interpretando personagens memoráveis. Mas Carvana fez mais. O “malandro”, no fundo, era um tremendo trabalhador, estava sempre atuando, dirigindo, criando novos projetos, escrevendo roteiros e bolando filmes.

Trabalhou no teatro e participou de 82 filmes; como figurante, ator e diretor. Foi um dos fundadores da Banda de Ipanema, junto com Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Jaguar, Lúcio Rangel e outros.

Em 1996, tirou o pé do acelerador quando descobriu ter câncer de pulmão. Parou de fumar, mas não parou de beber. “Às vezes burlava a quimioterapia. Tomava um uisquinho antes de começar o tratamento.”, dizia.

Carvana e eu nos conhecemos em 2005, se não me falha a memória, no lançamento do livro do Moacyr Luz. Quando disse para ele que tinha um bar na Lapa, ele disse: “Meu sonho é ser dono de um bar na Lapa. É um sonho antigo. Não para ficar administrando o negócio atrás do balcão, mas para fazer o que mais gosto: beber”.

O boteco na Lapa nunca passou de um sonho, mas Carvana foi dono de outro bar. Mais famoso. O “Bar Esperança”.

Carvana tinha muitas histórias:

“Gosto de uma do Vinícius de Moraes. Ele estava num bar com o Tom Jobim e uma amiga. O Vinícius perguntou aos dois quais os bichos que eles gostariam de ser. O Tom respondeu que queria ser um leão, o rei da selva, e a moça disse uma garça. Quando o Tom perguntou que bicho o Vinícius gostaria de ser, a resposta foi imediata. 'Uma girafa, porque o uísque ia demorar a descer'. Acho que gosto tanto de uísque quanto o Vinícius gostava."

Casado com a jornalista Martha Alencar, é pai de Pedro, Maria Clara, Júlio, e Rita. Nasceu no Lins de Vasconcelos, em 4 de junho de 1937 e morreu em 4 de outubro de 2014, aos 77 anos, no Rio de Janeiro.

Deve estar agora no céu, sentado numa mesinha do 'Bar Esperança', o último que fecha.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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