Evangélicos crescem e já somam 26,9% da população
Censo 2022 do IBGE revela mudanças no mapa religioso brasileiro

Belo Horizonte - O Brasil vive uma transformação silenciosa, mas profunda em seu perfil religioso. Os dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam um país cada vez mais plural em suas crenças. Os evangélicos agora representam 26,9% da população com 10 anos ou mais, enquanto os católicos apostólicos romanos caíram para 56,7%, a menor proporção já registrada desde o primeiro censo, em 1872.
A mudança confirma uma tendência de queda contínua do catolicismo, que em 2010 representava 65% da população, e era praticamente hegemônico até meados do século XX. Em contrapartida, o crescimento evangélico, embora em ritmo mais lento que em décadas anteriores, ainda é significativo: eles somavam 21,6% em 2010.
A Região Norte lidera o avanço evangélico, com 36,8% da população se declarando adepta dessa fé. Já o estado do Acre se destaca como o mais evangélico do país, com 44,4% de sua população ligada a essas igrejas. No campo católico, o Piauí lidera, com 77,4% de fiéis.
A pluralidade religiosa também se manifesta no crescimento das religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, que passaram de 0,3% da população em 2010 para 1% em 2022. Segundo a pesquisadora do IBGE, Maria Goreth Santos, a maior visibilidade e o combate à intolerância religiosa encorajaram muitos praticantes a se declararem abertamente umbandistas e candomblecistas, algo que antes era evitado por medo ou vergonha.
Outro grupo que cresceu foi o dos sem religião, que agora somam 9,3% da população, contra 7,9% em 2010. Eles incluem ateus, agnósticos e pessoas que não se identificam com nenhuma crença organizada. Os estados de Roraima e Rio de Janeiro têm as maiores proporções de pessoas sem religião, ambos com 16,9%.

A pesquisa também revelou variações por faixa etária e nível de escolaridade. Os evangélicos têm maior presença entre os jovens: 31,6% dos que têm entre 10 e 14 anos seguem essa fé. Já os católicos são maioria entre os mais velhos: 72% dos brasileiros com 80 anos ou mais.
No quesito escolaridade, os espíritas continuam sendo o grupo religioso com o maior percentual de ensino superior completo (48%). Já os católicos e evangélicos têm níveis mais baixos (18,4% e 14,4%, respectivamente), enquanto os adeptos de tradições indígenas apresentam os piores índices educacionais, com 53,6% sem instrução ou com fundamental incompleto.
As diferenças também aparecem na distribuição por gênero e raça. As mulheres são maioria entre evangélicos (55,4%), espíritas (60,6%) e religiões afro-brasileiras (56,7%). Os homens predominam apenas entre os sem religião (56,2%).
Quanto à cor/raça, os brancos lideram entre os católicos (60,2%), enquanto os pretos e pardos apresentam maior presença proporcional entre os evangélicos (30% e 29,3%, respectivamente). Curiosamente, entre os indígenas, os evangélicos são maioria (32,2%), superando inclusive os seguidores das tradições religiosas nativas (7,6%).
O levantamento do IBGE ajuda a mapear o novo rosto da religiosidade brasileira: mais diversificado, mais jovem em algumas denominações e menos centrado na tradição católica. Para estudiosos da fé e da sociedade, os dados indicam que o Brasil caminha para um cenário de maior convivência religiosa — mas também exigem atenção a temas como tolerância, representatividade e políticas públicas sensíveis à diversidade.
Resumo dos principais dados (2022):
Grupo Religioso | Percentual (%) |
---|---|
Católicos | 56,7 |
Evangélicos | 26,9 |
Sem religião | 9,3 |
Outras religiosidades | 4,0 |
Espíritas | 1,8 |
Umbanda/Candomblé | 1,0 |
Tradições indígenas | 0,1 |
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