Coluna

ZIRALDO, DRUMMOND E O PIPOQUEIRO DA ESQUINA

carlos drummond de andrade e ziraldo
Drummond e Ziraldo / Arquivo - 


Rio de Janeiro - Não é sempre que você esbarra com um cartunista famoso - ainda mais com o Ziraldo - por aí.

Mas, naquele sábado, no Restaurante Martinez, no Leme- RJ, Ziraldo passou o dia comemorando seus 80 anos com um punhado de cartunistas.

Rolava, ali, o 10º Encontro Anual dos Cartunistas e o pai do Menino Maluquinho estava ali - a convite dos cartunistas Ferreth e Amorim - autografando seus livros e, como bom mineiro, jogando conversa fora.

Ziraldo, como sempre, foi amável e receptivo com todos. O papo e o chopp rolavam solto. Entre as conversas que tivemos, falei sobre a primeira vez que nos encontramos:

Estávamos em 1981. Tempos de ditadura no Brasil. Mais exatamente na noite do dia 24 de agosto de 1981. Aquela noite, na Livraria do Pasquim - ou melhor, no terraço do prédio,  pois o público  era grande demais e foi necessário um espaço que o abriga-se - Ziraldo e o poeta Carlos Drummond de Andrade, lançavam, em Ipanema, o livro "O Pipoqueiro da Esquina".

O livro era uma seleção das tiradas (chamadas de pipocas) que Carlos Drummond de Andrade escrevia no “Jornal do Brasil'', ilustradas pelo Ziraldo. Uma obra marcante, sobretudo, pela apreensão do momento histórico ali retratado.

Eu, na época, um jovem cartunista, começava a publicar meus trabalhos no jornal "Luta Democrática", do lendário Tenório Cavalcante.

Duro. Não tinha dinheiro pra comprar o livro dos meus ídolos. Era um livro grande, editado pela Codecri, bonito e caro pra cacete.

Fui à noite de autógrafo com um velho e surrado livro do Ziraldo: "A Última do Brasileiro", lançado em 1975, também  pela Codecri, editora do jornal  "O Pasquim".

A fila era enorme. Na minha vez, tímido, disse que também era cartunista e entreguei o livro nas mãos do Ziraldo. Ele olhou o livro, me encarou e, sorrindo, autografou e me devolveu.

Sentado ao lado dele, estava o poeta. Eu estava bastante emocionado. Era a primeira vez que me encontrava pessoalmente com o grande poeta. Lembrei dos primeiros livros que li dele e dos poemas que a professora lia na escola.

Entreguei o livro. Ele apertou minha mão, desenhou uma autocaricatura (o poeta sempre quis ser um cartunista) e tascou: "Ediel, entro nesse livro de gaiato. Carlos Drummond de Andrade."

Ziraldo ouviu atentamente a história. Sorriu e perguntou: "Você ainda tem esse livro?" Diante da minha afirmativa, concluiu: " Isso vale uma fortuna!"

Na verdade, a maior recompensa para o jovem cartunista, naquela noite, foi conhecer Ziraldo e Drummond.

Ediel Ribeiro (RJ)

728 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários