Coluna

O CERTO E O ERRADO

escultura com setas em uma floresta
Crédito: Susan Q Yin / Unsplash - 

Juiz de Fora (MG) - Desde os primeiros anos aprendemos que existe o lado certo e o lado errado. Adultos, familiares nos apontam os personagens da rua e do bairro, ou mesmo os parentes mais próximos nos dizendo aqueles que fazem o certo e aqueles que fazem o errado.

- Faça a coisa certa!

- O que você fez foi muito errado!

Depois disso vêm as pessoas que se dizem de bem, e que dizem fazer a coisa certa. Seus opositores, naturalmente, fazem as coisas erradas. Muitas dessas pessoas de bem, ou que tenham bens suficientes para que pareçam assim, defendem, para suas vitórias, o conceito: os fins justificam os meios. Que na sua tradução livre seria faça a coisa certa, portanto, os fins, mesmo que se utilize de coisas erradas, os meios.

Diante da encruzilhada estamos, no momento em que precisamos decidir, entre o certo e o errado. E nessa encruzilhada estão também nossos desejos e nossas escolhas, aquilo que nos vai fazer felizes e vem ao nosso encontro. E também aquilo que precisamos fazer para sermos aceitos como pessoas certas, ou enfrentar os medos de estar entre as pessoas erradas. Logo, o que seria o certo? Fazer o que manda a suposta maioria, mesmo aquela que faz coisas erradas para seus objetivos ou fazer parte da suposta minoria, aquela que decide pelo lado errado, segundo a maioria, e que também tem seus nobres objetivos?

Até porque a suposta maioria, que faz a coisa certa, contando um por um, não dá nem a terça parte da suposta minoria, que faz a tal coisa errada.

Fazemos a coisa certa aos olhos de quem manda, e que tem interesse em manter o mundo algemado às suas certezas, ou optamos por aqueles que lutam e têm interesse em libertar o mundo para enfrentar e instituir as suas certezas no tal lado errado?

Escolher entre o certo e errado não é difícil, o difícil é escolher estar dentro das engrenagens que movem o sistema ou estar fora e mandar às favas os conceitos escolhidos por quem manda.

Portanto, não existe a escolha entre o certo e o errado. Existe a escolha pela forma de viver que nos traz mais conforto. Se a minoria exprimisse suas vontades, por certo escolheria o lado certo que é, nada mais nada menos, aquele que a faz sorrir e andar pelas ruas, dona de seu próprio destino.

O mundo em que vivemos não nos dá opção na escolha do certo e do errado. Apenas nos dá a opção única de que o comportamento determinado nos garante a sobrevivência entre a maioria, supostamente, certa..

Quantas vezes fizemos a coisa certa e choramos, e quantas vezes fizemos a coisa errada e sorrimos? Choramos por sermos heróis e sorrimos por sermos bandidos? Mas também choramos quando o nosso lado certo perde, para o lado errado que não gostamos.

Faça a coisa certa e também faça a coisa errada. Amar a quem queremos e desejamos, trabalhar naquilo que amamos, mesmo que junto venha o sofrimento, mas, apenas estaremos sendo humanos, essa maioria que está dentro de nós, contra a minoria que está contra nós.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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