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MORRE NETTO, O CARTUNISTA MAIS RÁPIDO DO VELHO OESTE

Rio de Janeiro - Netto foi um dos primeiros amigos que fiz no desenho de humor.

Nos conhecemos nos anos 90, quando, ainda jovem, ele enviou para o “Cartoon” - um jornalzinho de humor que eu editava, no Rio de Janeiro - uma pasta com dezenas de cartuns, cada um melhor do que o outro.

Pessoalmente, nos encontramos, anos depois, na Ilha do Abraão, no ‘Salão Internacional de Humor da Ilha Grande’, organizado pelo cartunista Ferreth. Dali, em diante, foram centenas de encontros e desencontros e muitos chopes, cervejas e litros de cachaça. Como apreciador da boa cachaça, Netto participava de degustações e eventos da ‘Confraria do Copo Furado’, um grupo fundado em 1994 com a missão de promover a cachaça de qualidade. Era apaixonado por uma boa pinga.

Nascido Roberto José da Rocha Neto, em 1964, em São Luís, no Maranhão, veio para o Rio de Janeiro em 1970, com apenas 5 anos. Ainda no primeiro grau, já ensaiava os primeiros traços. Seu talento foi percebido pelos professores que o incentivaram a criar desenhos para o mural da escola e para o jornalzinho interno, marcando o início de sua jornada artística.

Netto cartunista
Arquivo pessoal - 

No Rio de Janeiro, formou-se Bacharel em Gravura e Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e virou ‘Netto, o cartunista mais rápido do Velho Oeste’, sendo convidado para eventos e ilustrações de livros e trabalhos com animação na Faro Filmes.

Morador de Niterói, no Rio de Janeiro, logo conheceu o cartunista e editor Ota e tornou-se fã e leitor da versão brasileira da revista Mad, especialmente dos cartuns sem legendas, que viria a ser sua marca registrada.

Influenciado por cartunistas como Don Martín, Al Jaffee, Antonio Prohías e, especialmente, Sergio Aragonés, Netto começou a arriscar seus próprios traços e criar cartuns de variados temas. Em 1994, foi premiado no concurso “Náufrago e Ilha Deserta”, promovido pelo jornal ‘Pasquim’, em parceria com a cerveja Malt 90.

O prêmio lhe rendeu vários convites para exposições pelo Brasil, como a ‘Humorana’, no Paraná. A partir daí, o cartunista participou de vários concursos salões e exposições, sendo premiado no ‘Salão Universitário de Piracicaba’, ‘Salão Internacional de Ribeirão Preto’, ‘Salão de Humor de Canindé/CE’, ‘Salão de Humor de Volta Redonda’ e ‘Salão Carioca de Humor’.

No exterior, foi premiado nos salões de humor de Cuba, Noruega, Bélgica e Dinamarca. Realizou exposições em Portugal, Romênia, Equador, tornando-se um cartunista de renome internacional.

Netto era um cartunista inquieto, curioso e observador atento ao comportamento humano em suas mais diversas matizes. Seus cartuns, sempre salpicados de um humor inteligente, perspicaz; às vezes leve, outras nem tanto, mexia com o imaginário dos leitores.

Admirador de cartunistas brasileiros, entre os quais Canini, Luscar, Vilmar Rodrigues, Ramade entre tantos outros, Netto atuou na imprensa, onde publicou nos jornais ‘O País’, ‘Jornal Incrível’, ‘Cartoon’, ‘Folha de Londrina’, ‘Umuarama Ilustrado’, e nas revistas ‘Raça Brasil’, ‘Atual’ e ‘Estilo’, ‘Ele & Ela’, ‘Playboy’, ‘Raça Brasil’, ‘Mad’, ‘Caras’, e ‘Bundas’.

Atualmente, o desenhista colaborava com os jornais ‘O Folha de Minas’, ‘Tribuna do Sertão’ (de Alagoas), ‘Coluna do Ítalo’, (de Umuarama- PR), ‘Ecos da Notícia’ (do Acre), ‘O Gonçalense’, e ‘A Notícia’ (de Macaé).

Reprodução 

Habilidoso na arte de desenhar instantaneamente, o cartunista niteroiense era habitual participante de eventos sociais e empresariais com desenho ao vivo, atividade que exercia há bastante tempo.

Entre suas obras mais notáveis está a série de ilustrações sobre cachaça intitulada ‘Cachaça Boa’, que explora o universo cultural dessa bebida com humor e perspicácia. Em Vassouras (RJ), participou da 7ª edição da “Feira da Cachaça de Vassouras”, com a exposição de Cartuns “Cachaça e Humor”.

O cartunista, que recentemente conseguiu vencer um câncer, faleceu de parada cardíaca, em consequência de um processo infeccioso da pele.

Seu trabalho pode ser visto na internet, no blog "Cartoons, devaneios, pirações, viagens, loucuras e muito mais’’.

Adeus, amigo!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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