Coluna

O QUE É SER HUMANO?

Juiz de Fora (MG) - O documentário Human, que está disponível no YouTube, eu já assisti algumas vezes, e não me canso. São duas mil entrevistas onde pessoas de todo mundo, das mais diferentes etnias, religiões, moradores em cidades ou não falam sobre suas vidas. Todas elas com bastante sofrimento, e nenhuma delas sobre causar sofrimento em outras pessoas. A grande pergunta que o documentário faz é o que é ser humano. Segundo eles o que nos faz humanos é chorar, ter alegria, sonhar, sofrer.

Também me faço a mesma pergunta e não encontro uma resposta satisfatória, a menos que questione o por que nos intitulamos humanos e não um animal como os outros que compõem a natureza. E nada há de absurdo, porque afinal viemos dela, frutos de uma evolução natural das espécies.

Foto: Marek Pospisil / Unsplash - 

Talvez nos consideremos humanos porque nossos sentimentos sejam diferentes dos outros animais e, portanto, negamos que os outros animais também sofram, chorem, se alegrem ou talvez sonhem. Sonham sonhos diferentes, sofrem sofrimentos diferentes, choram de forma diferente e se alegram de forma diferente. O único sentimento em comum é a morte, e a diferença é que sabemos que ela virá, talvez os outros animais não saibam, apenas sentem que a hora é chegada e na hora que chega.

Para nós, humanos, os animais estão dentro de uma cadeia alimentar e por isso são assim, mas, nossa humanidade faz olhos fechados para o fato que estamos no topo dela, ou que temos uma ética entre nós, apesar de que em nome do poder e da supremacia colocamos a ética em segundo plano, e estabelecemos um outro critério de cadeia alimentar: a econômica.

Somos humanos porque somos animais diferentes, temos o prazer, mas o prazer em matar, caçar, às vezes por esporte outras por “expertise”, uma palavra pouco discreta para definir a esperteza, muitas vezes travestida de uma posição superior que não permite que a esperteza do outro se sobressaia, e, se sobressair, ou é sufocada ou é cooptada.

Somos humanos porque não amamos, verdadeiramente, mas amamos por interesse ou desejo. Um grupo de animais defende a prole, o grupo, são solidários, outros animais defendem somente a sua prole e o grupo é negligenciado e origem de disputas pela chefia.

Existem animais cruéis, outros bondosos, mesmo entre eles há diferenças, e nós, os animais humanos, sabemos as diferenças entre eles, o que nos faz humanos é que mesmo sabendo as diferenças, continuamos indiferentes ao óbvio; não amamos o próximo como a nós mesmos, amamos a nós mesmos em primeiro lugar, e depois, talvez, o próximo, em interesses.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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