Rio de Janeiro - Acredite se quiser: a verdade é que conheci o cartunista Jaguar no Bar Harmonia, no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, nos anos 90.
Ele, evidentemente, já esqueceu. Coisas da amnésia alcoólica.
Na época, Jaguar escrevia uma coluna chamada “Conversa de Botequim”, no finado “A Notícia” - a coluna acabou quando o jornal fechou, em 1997. O cartunista andava pela sua Bangladesh - apelido que deu às ruas em torno da Central do Brasil - a caça de um pé-sujo com serragem no chão e pinturas de Milton Bravo - o Michelangelo dos Botequins - nas paredes.
Na Praça da Harmonia, havia dois botecos com esses painéis, que hoje são tombados pelo Patrimônio Artístico e Cultural da Cidade do Rio de Janeiro: O meu, o ‘Bar Harmonia’ - que, na verdade, se chamava ‘Tapajós’ e o ‘Café e Bar Sulista’.
O nome ‘Bar da Harmonia’ veio da Praça onde ele se localizava e, mais tarde, do bar homônimo do filme
"E aí,Comeu?”, longa-metragem dirigido por Felipe Joffily, uma espécie de 'Sex and The City' na versão masculina com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Netto, Seu Jorge e Dira Paes.
O Bar Harmonia é o único cenário do filme que não era real. O bar cenográfico que impressionava por sua semelhança com um bar de verdade, foi inspirado no ‘Bar Tapajós’.
"A gente estava procurando um bar pelo centro do Rio, exatamente na área da Saúde, região meio esquecida da cidade, mas que está sendo revitalizada. Encontramos um bar que nos encantou e o reproduzimos em uma fábrica abandonada” - diz Tulé Peak, diretor de arte do filme.
O bar ficava na esquina da Rua do Propósito, 6, em frente ao 5º Batalhão da Polícia Militar. Ao lado do bar ficava também a antiga redação do jornal ‘Luta Democrática’, matutino fundado pelo deputado Tenório Cavalcanti.
Foi nas mesas do ‘Harmonia’, que eu bolei boa parte do jornal ‘Cartoon’, que lancei em 1991 e abrigou boa parte dos "órfãos do Pasquim" (o jornal ‘Pasquim’ fechou no dia 11 de novembro de 1991), com uma festa ali mesmo no Bar.
O ‘Cartoon’ publicou muita gente nova e boa. Gente como Alvim, que depois foi pro "Jornal dos Sport"; Netto, um rapaz de Niterói que publicou no "O Fluminense"; Ferreth de "O Dia"; Ykenga de “O Povo”; Fred e William, cartunistas da Paraíba; Aragão e Selim de Minas Gerais; Amorim, do “Pasquim” e Gonzalo Cárcamo, um cartunista chileno que veio trabalhar no Brasil, fugindo do ditador Augusto Pinochet e hoje pinta aquarelas e mora em São Paulo. Além, claro, dos consagrados Nani, Chico Caruso, Jaguar, Ziraldo, Cláudio Paiva, Ique, Aroeira, Nássara, e outros, que gentilmente colaboraram, sem ganhar nada.
Outro dia, fiquei sabendo que o ‘Bar Harmonia’ - assim como o da ficção - também fechou as portas. É uma pena que um bar com tantas histórias só exista agora na memória de quem o conheceu.
O ‘Sulista’, ao lado, felizmente, ainda resiste.
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