Coluna

Rio sob domínio do crime

- Athaliba, o princípio do poder da autoridade pública do Rio de Janeiro é uma falácia. Faz muito tempo que o domínio é do crime organizado que, absurdamente, dizem não compensar. Se não compensa, por que vem crescendo tanto nos últimas décadas? Consequência adversa dessa situação calamitosa que corrói a sociedade cai no colo da maioria da parcela pobre da população. A vítima recente da dicotomia foi Eloá Passos. Tinha 5 anos e morreu com tiro no peito quando brincava de pula-pula na cama, em sua casa, no Morro do Dendê, na Ilha do Governador.

- Marineth, policiais militares foram acusados de “mandar tiros prá dentro da comunidade e Eloá foi atingida”. É o que conta a prima dela, Indiane Passos. Confirmado pela avó da menina, Simone da Silva. É a mesma versão de moradores que presenciaram manifestação no local em protesto contra a morte de Wendell Eduardo de Almeida, 17 anos, no dia anterior. Antônio Costa, da ONG Rio de Paz, diz que em 1 ano e 8 meses 14 crianças morreram por ‘bala perdida’ em consequência de ações policiais, que ele classifica como “política do governo de extermínio”

Eloá morreu com tiro no peito quando brincava de pula-pula na cama, na casa dela. PMs do 17º BPM são acusados de tê-la matado. Reprodução.
Eloá morreu com tiro no peito quando brincava de pula-pula na cama, na casa dela. PMs do 17º BPM são acusados de tê-la matado. (Reprodução.) 

- Athaliba, em decorrência da morte de Wendell e de Eloá, às quais PMS são acusados, foi afastado do comando do 17º Batalhão de Polícia Militar o tenente-coronel Fábio Batista Cardoso. A decisão foi do governador Cláudio Castro (PL), após severas críticas de ser incompetente na política de segurança pública. Mais de 600 crianças e adolescentes foram baleadas no Grande Rio - região que inclui cidades como a capital, Niterói e São Gonçalo, além de municípios da Baixada Fluminense -, em 7 anos. A estatística é do Instituto Fogo Cruzado.

- Marineth, o cerco a Cláudio Castro tá se fechando. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça - STJ - rejeitou os pedidos de recursos dele para anular duas delações nas quais é acusado de ter recebido propina. Os fatos ocorreram quando ele era vereador pelo Rio de Janeiro e, depois, vice-governador do então ex-juiz federal Wilson Witzel. A decisão dos ministros foi unânime e a defesa do governador disse que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal - STF.

- Phorra, Athaliba, o Cláudio terá o mesmo destino que governadores ou ex-governadores presos ou afastados do cargo acusados de corruptos? No rol tem Moreira Franco; Anthony e Rosinha Garotinho, denunciados por superfaturamento em contratos da prefeitura de Campos dos Goytacazes. O ex-juiz Wilson Witzel, réu por corrupção e lavagem de dinheiro na saúde. E Luís Fernando Pezão. E o mais badalado deles, Sérgio Cabral que, inclusive, é tema enredo no Carnaval de 2024 pela escola de samba União Cruzmaltina, ligada à torcida do Vasco da Gama.

- Tudo indica que sim, Marineth, pelo andar da carruagem! Bruno Campos Selem, um dos delatores, disse ao Ministério Público que Cláudio Castro recebeu R$ 100 mil (em papel bordado) de Flávio Chadud, dono da Servlog, empresa que tinha contratos milionários com a Fundação Leão XIII. Na ocasião Cláudio era vice-governador e o dinheiro foi entregue a ele num shopping, com câmeras de segurança registrando o flagrante da propina. Ocê não viu?

- Lembro Athaliba, que o Chadud foi preso na Operação Catarata, do Ministério Público do Rio, que desvendou a corrupção em contratos na área de assistência social no governo do Estado e na Prefeitura do Rio. E qual é a outra delação que acusa Cláudio Castro de corrupto?

- Marineth, o empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva é o segundo delator premiado, que diz que o atual governador do Rio de Janeiro, quando vereador, em 2017, recebeu propina em contratos da Prefeitura do Rio. Garante que Cláudio, no cargo de vice-governador, participou de esquema de corrupção em contratos da Fundação Leão XIII e recebeu propina em dólar, nos Estados Unidos. Portanto, é possível que os dias estejam contados para a prisão do Cláudio.

- Sabe, Athaliba, esses escândalos de corrupção, infelizmente, tão inseridos na cultura da vida brasileira. O Rio de Janeiro desde sempre esteve subjugado ao crime. Uma amiga diz que isso é tradição, que tá na origem da colonização. À qual os colonizadores mandaram para o Brasil ladrões, prostitutas, assassinos, estupradores, entre outros delinquentes. E que essa realidade só será depurada num processo revolucionário que resulte na instalação do poder popular no país.

- Ela tem razão, Marineth. O atual escândalo das jóias envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid (preso desde maio) e o pai dele, o general Mauro Lourena Cid - ambos ligados ao mito pés de barro que esteve na presidência da República -, corroboram com a situação descrita por sua amiga. E só através da construção de uma referência revolucionária nós não mais iremos chorar por vítimas de “bala perdida”. Salve Eloá, Agatha, Ester, Vladimir, Kevin e tantas outras vítimas!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 18-08-2023 08:08:05 Julio Oliveira

    Lênin! A violência no RJ já ultrapassou todos os limites. Se é que há algum limite para a violência! Algo de novo no combate a violência tem que ser realizado o quanto antes.