Coluna

NUNCA MAIS

Kelly Sikkema/Unsplas

Juiz de Fora - Nunca mais tem um significado muito grande, dependendo das circunstâncias onde o colocamos. Não quero te ver nunca guarda ainda uma certa esperança em rever alguém que se foi. É mais ou menos quando, crianças, decidimos trocar de mal com o amigo e dizemos que estamos de mal para sempre. É um para sempre que não guarda nenhuma data, porque pode ser desfeito no dia seguinte, depois de um pedido de desculpas, ou mesmo quando uma brincadeira volta a reuni-los.

Nunca mais traz um adendo terrível para a palavra, que é aquele “mais”, que funciona como um elemento que reverbera aquele nunca, dando a ele um sinal de eternidade, do não rever, não falar, não recordar. Nunca mais tem um sentido do abandono, do virar as costas e não voltar mais os olhos, não querer se tocar. Pode ser uma pessoa, um lugar, que decidimos apagar da memória, da lembrança, como se não tivesse existido em nossas vidas.

Nunca mais é ruim para quem fala, e é ruim para quem recebe. Para aquele que dá a notícia é uma forma de decepção de demonstrar que a confiança acabou, que não haverá retorno. Para aquele que recebe pode ser uma surpresa, do algo não esperado, sendo um amor partido nada poderá consertar, o tempo vai se encarregar de encontrar um curativo. Além do que ao receber a notícia, haja uma culpa que vai perdurar junto com aquele mais que o acompanha.

Mas, também tem o nunca mais daquele que não recebe a notícia:

- Soube de alguma coisa do fulano, da fulana?

- Não, nunca mais eu soube dele ou dela.

Esse ainda guarda um sinal de esperança. Mesmo que tenha uma carga negativa de algo que aconteceu. Ainda mais quando não houve uma despedida. Esse nunca mais guarda ainda um sinal de dizer “O que aconteceu com eles?”.

Tem o nunca mais do erro que prometemos não mais cometer. O nunca mais pode ser uma lição de vida, um algo a mais em nossa experiência. O nunca mais funciona como um acréscimo, e sempre sendo lembrado quando a mesma situação acontece. E dizemos para nós mesmos:

- Nessa eu não caio, nunca mais eu faço isso.

Nunca mais pode ser a raiva ou a promessa. Porém, quando chegamos à idade mais além, quando nosso futuro já parece mais curto, o nunca mais se torna real, ao dizermos que, dado o tempo que passou, não teremos nunca mais aquele algo que ficou de saudade do passado.

A maior lição do nunca mais é sempre no presente, no nascer e crescer da vida, tornando o nunca mais sempre distante. Desfrutando cada momento glorioso da vida, fazendo as coisas com intensidade, para quando o nunca mais chegar, podermos dizer:

- Mas eu fiz isso muitas e muitas vezes, e posso dizer que nunca mais vou esquecer.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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