Coluna

O ESPERTO E O TOLO

OVOS
Foto: Tengyart on Unsplash - 

O controle do mundo passa pelos espertos ou pelos tolos? Vale a pena questionar isso se estabelecermos que o mundo se divida entre eles. Assim como, alguns podem dizer, que o mundo se divide entre os fracos e os fortes. Então, qual seria a posição que estamos no mundo? Ser o esperto, o tolo, o forte ou o fraco?

Outros podem dizer que não se enquadram em nenhuma delas. São viajantes temporais e vieram ao mundo a passeio e pouco se importam com o que virá depois. É como desembarcar de um trem em uma estação desconhecida, não tendo a mínima ideia de onde ele veio e nem mesmo para onde aquele trem vai. 

Desembarcar em uma cidade qualquer é como enfrentar o desconhecido. Tentar sobreviver parecendo ser o mais esperto ou fingindo que se é o mais tolo, nem tentando ser forte ou fraco. Apesar de que a última posição depende do ponto de vista.

Os espertos vendem aos tolos a ideia de que o fracasso é uma preponderante do universo. E para os perdedores ou aqueles que são fracos bastará embarcar naquele trem porque no final da linha haverá o benefício onde tolos serão recompensados e os fracos serão redimidos. Logo, a venda da benesse pelos espertos e a compra pelos tolos estabelecem o perfeito mercado que divide os fracos e os fortes.

Ao final das contas, aquele que parece tolo, embora pareça também o mais fraco seja o mais forte ou o mais esperto de todos.

Quem vive bem nesta vida, ou desembarca de um trem em uma cidade e se dá bem, naturalmente, quer que aquela vida de benesses se perpetue e vende um futuro improvável para um grupo de fracos que se fortalecem numa crença, tipo um sindicato de perdedores que aceitam sofrer em troca de um benefício futuro. Portanto, se a ideia de igualdade pode existir no futuro, por que não agora, perguntariam os fracos. Respondem os espertos que não se pode querer recompensa por algo que não se sofreu para ter. 

E assim, a humanidade vai sendo engambelada até o juízo final dele, o fraco. O tolo não almeja nada mais do que ser o mais esperto porque se submete esperando uma recompensa que o esperto lhe prometeu.

Um deputado, certa vez, disse que as esquerdas prometem o céu na terra e que isso não seria possível. Claro que não escondia seu perfil religioso. Assim, entramos no terreno das possibilidades extraterrenas. 

É possível ter o céu na terra? Depende. Que tipo de céu seria? Onde todos seriam iguais e Deus determinaria um cala boca já morreu naqueles que venderam suas ideias em troca de um paraíso terrestre?

Nem um tolo acreditaria nisso! Sim, tolos acreditam nisso. Como acreditam que um dia serão como os ricos. Isso não seria possível. Afinal, como todos podem ser ricos se o dinheiro ou a riqueza são as mesmas, e elas não se reproduzem para atender a todos?

A batalha entre o tolo e o esperto não é uma questão de esperteza ou tolice. Porque o tolo se julga esperto dizendo que a vingança virá. O esperto tem a certeza que ela existe mas se julga imune a ela. Há tolos, no entanto, que acreditam que dar o seu tempo, sua utopia para um homem que se diz o intermediário de Deus, se julgando espertos, não percebem que são apenas alimento para que os espertos curtam o céu na terra. E especulam sobre se virá um mais além. No final das contas, de alguma maneira os espertos terão vivido em um tipo de paraíso.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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