- Athaliba, a Vila Isabel vai juntar os deuses que simbolizam religiosidade e que têm sua origem em cultos a divindades consideradas profanas, se postas em oposição à ideia monoteísta. Espera-se que o público festeiro e pobre das arquibancadas e, também, a outra parcela abastada de “capilé” ou, ainda, “papel bordado” (sinônimos de dinheiro, sabe?), em camarotes, boxes especiais e frisas, entendam o recado do carnavalesco Paulo Barros. Ele diz que no desfile “a fé será acompanhada da diversidade, onde todos os deuses fazem parte da história de uma só humanidade, trilhando caminhos diferentes em busca da felicidade”.
- Marineth, infelizmente, o maior espetáculo de artes visuais, na atualidade, é banquete de luxo. Podemos aprofundar o assunto em outra ocasião menos emotiva à razão dos foliões nestes dias de intensa diversão na festa de Momo. Quero rememorar a Vila Isabel nos papos com Paulo Gomes de Aquino, o Paulo Brasão, vencedor de 17 sambas-enredo, um dos fundadores e três vezes presidente da agremiação. Estava quase sempre na companhia prazerosa do xará dele, o saudoso amigo e jornalista Paulo Francisco Magalhães, o PF. Nos ensaios da escola no campo do América, o meu time de estimação, na Teodoro da Silva, que reunia a fina flor dos sambistas.
- Sem nostalgia, saudosismo, Athaliba, conta como era o papo com o bamba do samba.
- Marineth, o PF era assessor de imprensa da escola que, no início dos anos 1980, usava o campo do América, onde, hoje, é um shopping. Com Paulo Brasão, a minha curiosidade se concentrava na criação da azul e branco, em 4/4 de 1946, na casa do Seu China, o Antônio Fernandes da Silveira. O maior vencedor de sambas da escola, então, lembrava-se da irmã Dulcinéia Gomes de Aquino, do Tuninho Carpinteiro, o Antônio Rodrigues; do Quinzinho, Joaquim José Rodrigues; e exaltava outros personagens que traçaram a trajetória empolgante da Vila Isabel. O papo ocorria ainda em bares de Vila Isabel, com as palavras molhadas em cerveja.
- E qual é a representatividade do Martinho da Vila na escola, Athaliba?
- Marineth, o Martinho José Ferreira, que anexou a Vila ao nome artístico - ele completou 85 anos no dia 12/2 -, é a insígnia maior da agremiação. Da extinta Aprendizes da Boca do Mato, incorporou-se, com dedicação plena, a Unidos de Vila Isabel, da qual é Presidente de Honra. Ele tem busto à entrada da sede da escola, na Av. 28 de setembro. É autor de sambas consagrados, como “Carnaval de ilusões”, “Quatro séculos de modas e costumes”, “Ya-yá do caís dourado”, “O sonho de um sonho” e “Onde o Brasil aprendeu a liberdade”, entre tantos outros.
- Bem, Athaliba, voltando ao enredo da escola, Nessa festa, eu levo fé, o carnavalesco diz que “de todas as festas, uma das mais populares era dedicada a Bastet, a deusa da fertilidade, da dança e do amor”. Afirma que a deusa tinha “o poder de fertilizar a terra e as pessoas, sendo celebrada na época da semeadura para invocar boas colheitas”.
- Marineth, o Paulo inclui no desfile do sambódromo tradições milenares representadas no Ano Novo Chinês, como uma festa realizada por 15 dias. Haverá “a dança do Leão, originária dos tempos das dinastias Han e Tang, como a cerimônia para exorcizar espíritos maléficos e invocar sorte e felicidade”
- Pois é, Athaliba. Ele garante que “o Festival das lanternas encerrará as comemorações e será especial, pois se trata da primeira noite de lua cheia do calendário da China, marcado pelo retorno da primavera”. E, no Japão, diz que “são incontáveis as divindades e celebrações, tendo origem xintoísta os festivais ‘matsuri’ reverenciando guardiões de templos e cidades, por todo o país. O convencional Santuário Okunitama celebra a divindade Okami, guardiã de sua antiga província, em dias e noites de festivais, como o Kurayami”.
- Marineth, o carnavalesco propõe Baco, o deus do êxtase, conduzindo o desfile às terras do nosso vilipendiado Brasil, principalmente nos últimos quatro anos da catastrófica gestão do mito pés de barro, que ocupou o trono da presidência da República. Para Paulo Barros “nossas festas de cada dia tem o poder de espantar a dor e a miséria com a mais pura alegria; sendo que o país tem inúmeros folguedos de fé, que mostram a diversidade de tradições e o sincretismo de elementos cristãos, afro-brasileiros e indígenas”.
- Peraí, Athaliba. Phorra, dizer que “festas espantam dor e miséria” é insultar a dignidade da maioria do povo, que cultua muita fé, mas sobrevive na miséria. Quero vê-lo fazer da lavagem da Festa do Bonfim, na Bahia, o milagre para a erradicação da podridão no Brasil. Xangô. Axê!!!
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