- Marineth, é imperativo forjar, seja de que maneira for, uma nova ordem mundial, já! Essa é a derradeira alternativa para extinguir as absurdas desigualdades que vem sacrificando a vida da larga maioria da população global. Aqui no Brasil, por exemplo, sobreviver no contexto do atual sistema político já passou de ser uma grande aventura. É quase morte certa, se avaliarmos o alto índice de gravidade das condições essenciais de alimentação, saúde, educação, segurança e habitação. Não dá mais para tolerar a exploração das riquezas do país que só beneficia uns poucos brasileiros, enquanto muitos sucumbem na miséria absoluta. Tá passando da hora de dar um basta definitivo nessa situação. Faz-se urgente uma nova ordem mundial, já!
- Entendo teu indignado desabafo, Athaliba. Ocê tem razão. Até porque se esse quadro de profunda injustiça socioeconômica persistir entre nós, o país poderá deixar de existir. Vai tornar-se inviável. Ou seja, terá a população dizimada pela fome e a pátria amada surrupiada, de uma vez por todas, pelo vil metal de gigantescas corporações transnacionais que corrói o mundo.
- Com minhas prévias desculpas, Marineth, phorra, é difícil assistir passivamente cidadãos, mulheres, homens e crianças, catando restos de comida em lixões por todo o Brasil. É intolerável acompanhar, dia-a-dia, pelos noticiários de rádios, jornais e TVS, a matança indiscriminada a tiros de jovens, principalmente de negros, em morros e favelas. Inadmissível ficar apático às tragédias naturais que causam a morte de milhares de pessoas e deixa outras ao deus dará, em habitações precárias que desabam em áreas consideradas de risco. É impossível fazer vista grossa frente ao desmonte do serviço público de saúde, explorado por políticos inescrupulosos; e a negligência à precariedade da educação, que arrasta milhões de crianças à absurda evasão escolar. Será que as aberrações que destrói a sociedade somente serão depuradas a ferro e fogo nas vísceras da opressão?
- Athaliba, a insegurança alimentar afeta a vida de cerca de 60 milhões de brasileiros, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. E mais de 15,4 milhões deles estão em condições graves de insegurança alimentar nos últimos anos. Nessa situação, as pessoas passam fome, fica sem alimento por um dia ou mais. Já no ano passado, em todo o mundo, 2,3 bilhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar. Previsão à vista da FAO é que 670 milhões de pessoas, equivalente a 8% da população global, passarão fome em 2030. Será que veremos a morte anunciada de milhões de pessoas devido à fome?
- É por isso, Marineth, que se faz urgente nova ordem mundial, já! Isso é imperativo. Nós, cidadãos minimamente organizados, que sabemos separar o joio do trigo, que dois mais dois são quatro, não podemos ser cúmplices de possível flagelo anunciado que se divisa no horizonte do planeta. A vida só vale a pena, estimada amiga, com embate permanente contra obstruções que tentam moldar a existência humana uma concentração de indigentes.
- Athaliba, a notícia bombástica, altissonante, estrondosa de o Brasil retornar ao Mapa da Fome da ONU não ecoou nos oligopólios conservadores de comunicação tanto quanto assuntos irrelevantes. De vez em quando a mídia televisiva exibe imagens de pessoas famintas em busca de ossos e retalhos de gordura de carne doados em açougues; lacônicas campanhas de doações de alimentos; e ajuda de voluntários à população de rua que vive em integral, irrestrito misere. A aguda crise que nos aflige faz crescer o número de crimes famélicos, como a Bahia tem registrado, por exemplo. Dados da Defensoria Pública da Bahia revelam que em 2021 houve um aumento de 20, 25% no percentual de furtos famélicos. Consistem em “subtrair itens para sanar estado notório de fome e necessidade com a finalidade de cessar a situação”, segundo o Código Penal. O que mais angustia é que, às vésperas do bicentenário do país, não temos nenhum sinal à vista que leve a erradicação da fome na pátria amada.
- Marineth, desde o período da trajetória conturbada de colonização, embrenhando-se nos tempos presente do desastroso processo de emancipação, é como se o Brasil prosseguisse no mato sem cachorro. Vivemos centenas de anos sob a exploração de economia escravista até o ato de abolição que, em verdade, se mantém camuflada nesse sistema de profunda miserabilidade. A fome que assola o Brasil atinge em larga maioria pessoas pretas e pardas, representando quase o dobro da população branca, conforme dados da ONU. A anêmica propaganda “Brasil país do futuro” é uma tremenda falácia. Amiga, não se projeta futuro com presente que morre de inanição!
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