- Marineth, nunca antes no curso da trajetória trágica da história da pátria amada a fé foi tão desvirtuada como nos dias de hoje. O slogan bíblico “o senhor é meu pastor, nada me faltará” deságua na vala da imoralidade religiosa. A expressão é conspurcada em templos evangélicos por pastores oportunistas que a utilizam como trampolim à política, fisgando incautos. A absurda maioria desse contingente, que busca por ajuda divina frente à aguda crise brasileira, cai na rede de ardilosos que engrossam a frente parlamentar evangélica no Congresso Nacional. No fundo, o slogan “o senhor é meu pastor, nada me faltará” só atende o interesse dos espertalhões.
- Athaliba, ocê, por favor, ilustra esse argumento.
- Marineth, ocê já se esqueceu do escândalo do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, pastor presbiteriano? Ele renunciou após ser alvo de inquérito da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal por favorecimento a pastores dentro do ministério. Em áudio que repercutiu na imprensa dizia estar atendendo “um pedido especial do presidente da República”, ao direcionar a verba ministerial para prefeituras, em negociatas com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
- Claro que me lembro dessa maracutaia, Athaliba. O Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembléias de Deus no Brasil, enquanto Arilton é integrante da Assembléia de Deus. Eles acessavam o Ministério da Educação pisando em tapete vermelho.
- Isso mesmo, Marineth. Mas, o Milton Ribeiro, que deixou o cargo em virtude do escândalo dos pastores, emplacou na função de ministro Victor Godoy Veiga, secretário-executivo dele. Na área da Educação nunca teve experiência profissional. Formado em engenharia de redes de comunicação de dados pela Universidade de Brasília (UNB) e pós-graduado em altos estudos em defesa nacional, na Escola Superior de Guerra (ESG), a nomeação foi vista como “troca de alhos por bugalhos”.
- Athaliba, ocê sabia que a Câmara Federal dos Deputados tem agora no cargo de 1º vice-presidente o Lincoln Portela, parlamentar federal por Minas Gerais? Ele é pastor e presidente da Igreja Batista Solidária, fundada com a nome de Igreja Batista Vale da Benção. Já incursionou por vários partidos políticos, desde 2003, e atualmente está no Partido Liberal, mesma legenda do mito pés de barro que ocupa o trono da presidência do Brasil.
- Sei quem é ele, Marineth. O Lincoln Portela é pai de Léo Portela, deputado estadual por Minas Gerais, em segundo mandato, e que é pastor auxiliar do pastor Jorge Linhares, presidente do Conselho de Pastores de Minas Gerais e da Igreja Batista Getsêmani. E o Lincoln é também marido de Marilda de Castro Portela, vereadora de Belo Horizonte, desde 2017.
- Athaliba, ocê sabe qual a mágica para se criar um clã na política, assim como o da família do mito pés de barro que está no trono da presidência da pátria amada? Ele tem os filhos 01 vereador, na Câmara do Rio de Janeiro; o 02 e o 03, respectivamente, senador e deputado, no Congresso Nacional.
- Ah, Marineth, quem dera pudesse saber das intrínsecas do poder sobrenatural de se criar um clã familiar na política! Essa situação é uma praga antiga na vida política do Brasil, alimentada pelo poder do dinheiro. Famílias endinheiradas se perpetuavam na política, conseguindo eleger filhos, genros, netos e outros até distante da linhagem através do poder da fortuna representada pelo grande volume de “papel bordado”. No entanto, de alguns tempos prá cá, não só a força do “papel bordado” tem sido o principal fator de se criar um clã político. Infelizmente, a fé na religião vem sendo explorada como trampolim à política.
- Athaliba, a fé é questão de fórum íntimo. Como diz a canção: “Seu eu quiser falar com Deus/Tenho que ficar a sós/Tenho que apagar a luz/Tenho que calar a voz/Tenho que encontrar a paz/Tenho que folgar os nós”.
- Marineth, a influência religiosa tem sido fato recorrente na política. A atual conjuntura tem isso como padrão, configurada no Messias. No entanto, a astúcia dos oportunistas vai além. O Lincoln Portela, por exemplo, usa alguns pequenos municípios como curral eleitoral. Em Itabira do Mato Dentro, berço do poeta Carlos Drummond de Andrade, cerca de 100 km de Belo Horizonte, ele arrebata votos de candidatos nativos. Já prometeu tornar a cidade Capital Nacional da Poesia, explorando a memória do poeta, com a conveniência de trouxas. Felizmente, o projeto de capital da poesia escafedeu-se. Ainda bem, pois Drummond jamais perdoaria os itabiranos. Ainda bem!!!
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