Coluna

PLANTAR UMA ÁRVORE, DEIXAR UMA IDEIA

É bastante conhecida a história do idoso que é surpreendido por um sujeito enquanto plantava uma árvore, e é questionado sobre o valor do seu ato. De que ele, pela sua avançada idade, não usufruiria da sua sombra ou dos seus frutos, não a veria alcançar a plenitude; enfim, um trabalho sem sentido. Ao que o homem respondeu que ao chegar neste mundo encontrara muitas árvores que foram plantadas por outros, que também não teriam visto, talvez, a sombra ou os seus frutos. E que o seu gesto seria apenas uma retribuição às gerações futuras.

LAMPADA
Foto: Júnior Ferreira en Unsplash - 

Deixamos no mundo, não somente árvores a serem vistas pelas gerações futuras, na esperança de que elas repitam o gesto, num vir-a-ser contínuo, fazendo o bem sem olhar para quem. Também deixamos exemplos, histórias vividas, experiências e ideias. Assim como o incrédulo sujeito que vê um imenso deserto de sentimentos na sua frente, e não enxerga um pequeno gesto de grandeza, as ideias são teimosas e, como as árvores, superam impedimentos e rompem da terra ou das mentes, na esperança de mudar o mundo, transformá-lo, mostrando que devemos evoluir sempre.

Uma árvore plantada no meio de uma planície pode se juntar a outras e mudar, transformar a natureza. As ideias são pequenas reflexões que lançamos na sociedade, plantadas por alguns seres teimosos, esperando que floresçam e mudem o mundo.

Árvores plantadas no deserto retiram a imagem de solidão, ideias que superam o pensamento retrógrado não permitem o seu retorno ou são fortes impedimentos para que floresçam.

Plantar alguma coisa é resistir, é mostrar perseverança. Algumas árvores passam longo tempo e nos surpreendem com suas flores, em determinadas passagens do ano, e por isso elas ali estão. As ideias ficam adormecidas e, amadurecidas, trabalhadas, serão a sombra e os frutos do futuro; a memória contra o preconceito, contra o ódio, pela manutenção da liberdade, porque alguns teimosos insistiram em plantá-las no deserto de sentimentos do passado, e nos cabe deixar que floresçam no futuro. Para que as gerações vindouras as encontrem estabelecidas, não vivam no deserto, e mantenham viva a manutenção, e que elas sejam melhoradas sempre, deixadas no mundo, fertilizando nosso amanhã, com novas ideias.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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