Coluna

A VONTADE E A IDADE

 Foto: Johnny Cohen/Unsplash

As idades, hoje, não se baseiam nos anos que se passam, elas são classificadas em classes, quando criamos a terceira idade e, atualmente, a quarta idade, que alguns teimam em classificar como a melhor idade, no que há controvérsias.

Essa classificação é uma espécie de empoderamento do idoso, vamos dizer assim, aproveitando o termo usado pelas mulheres, dando ao idoso uma vida que antes era relegada a idas para um asilo, ficar dentro de casa, e a contar histórias repetidas. O que não invalida a última classificação.

No entanto, apesar do tempo que avança, uma coisa sempre deve prevalecer em todas as etapas: a vontade.

Vontade é algo que está ligado ao sonho, à realização, à chegada a um objetivo. O que leva o sujeito a ignorar o tempo, desmerecer algumas dores, que vão chegando, é uma vontade de prosseguir, de não desistir de alcançar objetivos e sonhos. Sonhar é imprescindível para todos, para todas as idades e classificações. Quando se perde a vontade por alguma coisa, ou, simplesmente, o tesão por alguma coisa, a idade começa a povoar nossos sonhos, e como uma nuvem pesada de chuvas e trovoadas, trazendo a escuridão, é a vontade de se jogar em um objetivo o único alívio para essas dores da alma.

Vontade é organizar objetivos. Se a lida diária, seja para qualquer idade, for maior do que todas as coisas que desejamos realizar, é porque estamos dando importância a coisas que podem ser adiadas, não deixando espaço para as vontades se assentarem.

É claro que não devemos esquecer determinadas situações que se tornam tragédias em nossas vidas. Não há como escapar do nosso destino, de algo que está além das nossas forças. Mas, a vontade é a única arma que nós temos para encontrar um lugar para respirar, as vontades são as ferramentas para organizar o tempo, para encontrar aquele pequeno espaço em que nos entregamos aos nossos projetos, que se tornam grandiosos porque são construídos no sufoco das tragédias e no dia a dia.

Não é uma fórmula de sobrevivência, as vontades, mas são o único remédio que podemos tomar sem contraindicações. Aquele pequeno espaço se torna infinito, se torna inquestionável, quando fechamos os olhos e pensamos no futuro, mesmo que ele esteja ali ou bem distante. Vontade é lutar, é lutar para vencer, mesmo que a vitória não seja digna de comemorações, mas são, e sim devem ser comemoradas.

Para muitos a luta pode estar perdida, porém contemplar o rosto de alguém que se ama, e ter a vontade de dizer que se gosta, que o beijo é o contato entre o sonho distante e a realidade, é uma vontade a ser guardada para sempre. Para o sonhador, os sonhos partem de dentro de nós, para os verdadeiros sonhadores, que estejam perdidos, e ainda assim continuam a sonhar, a conclusão é que mesmo que desistamos, os sonhos vindo, nos farão perceber é que eles nunca nos abandonam.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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