Itabirana aluna da rede municipal é a 1ª brasileira a ocupar conselho estudantil internacional
“Quem disse que precisa crescer para mudar o mundo?”. É com esse discurso que a adolescente itabirana Maria Clara Lacerda dos Santos, de apenas 14 anos, acaba de se tornar a primeira brasileira a ocupar uma cadeira no conselho estudantil da organização internacional “Design for Change” (no Brasil, chamada de “Criativos da Escola”). Moradora do bairro Vila São Geraldo, a jovem é aluna da Escola Municipal Didi Andrade.
Como integrante do grupo, Maria Clara e outros 10 adolescentes de diferentes nacionalidades terão como responsabilidade dar voz aos jovens, se posicionar sobre temas atuais, apoiar projetos inovadores, propor engajamento a respeito de causas importantes, além de promover a troca de conhecimento das diferentes realidades presentes no mundo. Ainda, o Conselho Estudantil é considerado um espaço para que crianças e adolescentes, de 11 a 16 anos, expressem seus pensamentos e opiniões sobre formas de promover o empoderamento e ampliar as possibilidades de transformar o mundo.
“É muito importante estar no Conselho Estudantil do ‘Design for Change’ para quebrar essa coisa de que só as pessoas mais velhas, com faculdade, possuem o direito de agir para mudar o mundo. Antes de entender qual era o meu papel na sociedade, a importância que eu tinha, eu achava que para mudar o mundo precisava crescer primeiro, estar em um lugar de privilégio, mas não”, conta Maria Clara. Devido à pandemia de Covid-19, a adolescente não pôde estar em Paris, para receber o reconhecimento do cargo.
Fazendo a diferença
Maria Clara conquistou o seu espaço internacional depois de participar do “Desafio Criativos da Escola”, com o projeto “#ForadaBolha”. Desenvolvido pela professora de história, Kele Frossard, o projeto trouxe discussões importantes sobre empatia, bullying, racismo, homofobia, machismo e violência doméstica. O “#ForaDaBolha” ganhou o prêmio do “Desafio Criativos da Escola” e, em 2019, Maria Clara teve a oportunidade de conhecer o Papa Francisco, em Roma, na Itália. Lá foi realizado o encontro com vencedores de quase 100 países.
De acordo com a professora Kele Frossard, o projeto surgiu dentro da Escola Municipal Didi Andrade após diversas conversas entre os estudantes. A iniciativa reúne, no canal do Youtube, vídeos gravados e produzidos pelos alunos que contam histórias baseadas em fatos, em que estudantes relataram vivências de violência e preconceito. Os vídeos foram feitos após os integrantes do #ForadaBolha escutarem os depoimentos das vítimas, mantendo o sigilo das identidades. “Nós tivemos a ideia de trabalhar esses temas a partir do entendimento da vontade e da necessidade dos alunos de “saírem da bolha”, o projeto faz um convite à empatia de entender qual o seu papel fora dali”, explica a professora.
Mestranda em Ensino e Humanidades pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Kele afirma que a conquista da Maria Clara é fruto do trabalho de todos os profissionais da rede de municipal de Itabira, onde a garota estuda desde a educação infantil. “Todos contribuíram para desenvolver as habilidades que hoje Maria Clara leva para esse conselho. Nós temos muitos profissionais excelentes contribuindo com o desenvolvimento dos nossos jovens”, conta.
Para a secretária municipal de Educação, Luziene Lage, a vitória de Maria Clara é inspiração para os demais alunos e também motiva os professores a continuarem com trabalhos que foquem na formação de cidadãos. “Trazer essa formação integrada é propiciar condições para que os nossos alunos possam estar sempre envolvidos nessas atividades engajadoras, para que talentos como Maria Clara possam ganhar espaço. Ficamos muito felizes com a conquista dela e do projeto “#ForadaBolha”. Com iniciativas assim, desenvolvemos esse protagonismo juvenil. Nós temos profissionais da educação competentes, capazes de olhar para as potencialidades dos nossos alunos. Agora, Maria Clara vai ganhar o mundo”, elogia a secretária.
Maria Clara conta que depois de participar do projeto aprendeu que os jovens podem fazer a diferença em qualquer lugar. “Ouvir os jovens é muito importante porque nós crescemos com aquela ideia de que não temos lugar na sociedade, e muitas vezes temos medo de falar, principalmente nós que somos do interior. Às vezes crescemos reprimidos e nos incentivar a falar é muito importante. Estamos há tanto tempo sem falar sobre esses assuntos abertamente que os próprios alunos demonstraram vontade de falar, de ter esse lugar de fala. Eu acredito que tudo começa a mudar a partir do momento que você abre o diálogo para falar sobre, porque você precisa entender como certas atitudes da gente influencia o outro colega e o quão importante é sair da nossa bolha”, ressalta a adolescente.
Novos caminhos
Além de integrar o conselho estudantil da “Design for Change”, Maria Clara também conquistou o título de “Jovem Transformadora” da Ashoka, uma organização sem fins lucrativos da Índia, presente em 89 países. A Ashoka lidera um movimento global para criar um mundo no qual todas e todos se reconheçam como agentes de transformação positiva na sociedade.
Ainda, a rede cria vínculos que proporcionam o fortalecimento de uma massa crítica capaz de incidir em políticas públicas e em instituições governamentais, não-governamentais e empresariais, produzir conhecimento e dar visibilidade a soluções inovadoras e de impacto sistêmico para problemas sociais.
No final desse mês, Maria Clara e a professora Kele receberam uma equipe de filmagem de São Paulo para a gravação de um vídeo a respeito da participação da estudante nesse novo desafio de mobilização.
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