Rio de Janeiro - 2020 foi um ano para ser esquecido.
Mas, apesar da pandemia, e da volta do Centrão ao governo, o ano não foi só de notícias ruins.
Terminamos 2020 com a maravilhosa notícia que “Memórias de Um Esclerosado”, história em quadrinhos do cartunista gaúcho Rafael Corrêa, vai, finalmente, virar filme.
Quando eu e a Sheila conhecemos o cartunista, no Rio Grande do Sul, ele já tinha sido diagnosticado com esclerose múltipla, mas, apesar da dificuldade de locomoção, continuava produzindo suas histórias e seus livros. Rafael encontrou no drama pessoal a força e a inspiração para criar seus quadrinhos autobiográficos, que agora vão estrear na telona.
Não é a primeira vez que a tragédia pessoal de um cartunista vira filme.
Em “Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot” (Não se Preocupe, ele não irá Longe a Pé), o cartunista John Callahan, interpretado por Joaquin Phoenix, é um homem conturbado que, bêbado, bate de carro e sofre um grave acidente.
A história real de John é contada através de personagens extraídos dos quadrinhos do cartunista. O filme mostra como Callahan, tetraplégico, transforma sua vida, tornando-se um dos cartunistas mais improváveis, talentosos, ácidos e perseverantes do mundo. Usando as limitações físicas, ele desenvolve uma carreira artística com a ajuda de sua namorada e de um amigo.
John Callahan durante muitos anos enfrentou o alcoolismo. Embriagados - ele e o amigo que dirigia - batem o veículo. John perde o movimento das pernas. A válvula de escape após o trauma se encontra no desenho de quadrinhos irônicos, brincando com o racismo, a sexualidade e a própria deficiência.
A partir do acidente, Callahan dedica-se intensamente ao desenho tornando-se um artista respeitado e um ídolo entre os desenhistas de histórias em quadrinhos americanos.
Apesar de todo o sucesso, por causa dos temas abordados, para algumas pessoas, o cartunista ganha a fama de cruel e desrespeitoso.
A história, dirigida por Gus Van Sant mostra a luta de John para superar a tragédia, o vício com a bebida e a dor. Quando John não está desenhando, ele está contando a sua história num grupo de ajuda, ou escutando valiosas mensagens do amigo e terapeuta Donnie (Jonah Hill).
Na narrativa, apesar do tom predominante das cenas tristes esperadas pela paralisia, ou pelas cenas divertidas da superação, o espectador jamais será realmente provocado ou perturbado.
Os quadrinhos hilários de Callahan, utilizados na passagem entre as cenas, ajudam a quebrar qualquer incômodo, e as atuações minimizam o peso do trauma.
Os atores são de primeira. Joaquin Phoenix, interpreta magnificamente o cartunista paralisado, mas ainda assim irresponsável e brincalhão. Jonah Hill faz um líder espiritual gay, ora bastante autoritário, ora muito permissivo e caricato. As atrizes Rooney Mara e Carrie Brownstein, completam o excelente elenco, dando vida ao roteiro.
Gus Van Sant termina o filme de modo despretensioso.
Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot está mais próximo de uma história contada com humor que de uma tragédia. É gentil e deve despertar sorrisos na maioria dos espectadores, mas, dificilmente vai arrancar gargalhadas da plateia. Não é uma comédia, é uma história real de vida e superação.
Como deve ser a do Rafael Corrêa.
Comentários