Coluna

UMA ESCOLHA DIFÍCIL

(Foto: Letizia Bordoni/Unsplash)

Cada um de nós tem uma leitura do mundo em que vive, do mundo que passou e do mundo que imagina ser o ideal para viver. Todos são escolhas fáceis para aqueles que se tumbam em seus próprios pensamentos, tendo como norte suas crenças ou vozes que soam em suas cabeças. Crenças são válidas, a partir do instante que elas começam em um ponto em comum: religiosas, sociológicas, humanistas e por aí vai. Dá até para discutir argumentos. Quanto às vozes, elas soam de acordo com as individualidades, logo estão mais para desnortear do que, propriamente, encontrar um ponto em comum. Essas vão mais dos interesses e egoísmos individuais.

Esses interesses e egoísmos são as pandemias que varrem de tempos em tempos o planeta. E os grupos antivacinas se negam a procurar as verdades dos fatos e preferem as inverdades dos fakes. Afinal, por que dar crédito àquilo que vai de encontro a essas vozes, não é mesmo?

A contaminação chega, enfim, até a cadeira mais importante do mundo, do chefe da nação mais poderosa (sic), à democracia mais cultuada nos tempos atuais e de alguns séculos passados. O mundo se sente mais confortável com a eleição de um dos lados, que, examinado à luz de uma lupa, considerando que ela tenha um apetrecho iluminador, verificamos que, no fundo, trocamos nada por alguma coisa. Para alguns uma escolha fácil, para o perdedor uma aceitação difícil, e para muitos, que não ouvem as vozes da cabeça como norte, uma escolha na forma de morrer.

As democracias deram lugar às escolhas, de preferência as menos difíceis, o mal menor, o uso de um remédio amargo para extinguir uma doença mais grave, mais ou menos um choque térmico para curar uma doença, cuja consequência é uma pneumonia, partindo do pressuposto que a pneumonia seja uma doença curável, mais fácil de tratar, com remédio e medicamentos confiáveis. E a pergunta seria: quem vai administrar a dose.

Nossas escolhas, cada vez mais difíceis, pensando na sobrevivência, pode ser a causa do final de tudo. Da humanidade, é claro, e o mundo agradeceria.

Essas escolhas começam de um jeito simples como aquele que opta pelo isolamento como forma de proteger a si e aos outros, e aqueles que saem para fazer compras, passear, mas, claro, longe da multidão, como se fosse possível fazer essas coisas sem ninguém por perto. Partindo desse pressuposto, os pontos mais longínquos do globo estarão ocupados. E não é verdade.

É claro que existem as crenças religiosas, de seres humanos que propagam imagens de santos e pedidos de reza, grandes ditos de autoajuda, e defendem, por outro lado, coisas indefensáveis e propagam notícias falsas, conscientes ou não, ajudando a propagar um vírus mais mortal, que é o vírus do desconhecimento, da alienação. Enquanto isso, os vírus reais se divertem com a estupidez de alguns e o medo de outros.

Há um ceticismo nas palavras, mas ainda há esperanças. Alguns países já demonstram, através do voto popular, que as coisas precisam ser consertadas, mas evidenciam, também, como o mundo está dividido, não mais através da ficção da guerra fria, não mais do muro que separava o mundo em duas partes. Ele está dividido de forma global, sem muros físicos, dentro das mentes e embalado pelas vozes na cabeça de alguns. 

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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