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JAGUAR: CONFESSO QUE BEBI

Jaguar (Arte: Nei Lima)

Rio - Jaguar é um dinossauro do humor.

Movido a álcool.

O cartunista Otélo Caçador me disse uma vez que quem nunca bebeu com Lúcio Rangel, não podia ser considerado carioca.

A frase se aplica bem ao cartunista Jaguar. Eu já bebi com Jaguar. Aliás, todo mundo já bebeu com Jaguar. 

Só como boêmio, Jaguar já merecia ter seu nome em uma estátua, em Ipanema, em homenagem a boemia carioca. 

Mas Jaguar fez mais. 

Além de boêmio, Jaguar foi um grande desenhista, escritor e editor do “Pasquim” o jornal que melhor representou a contracultura, e a boemia carioca.

Jaguar, foi, acima de tudo, um boêmio. Foi, porque hoje, por recomendações médicas, não bebe mais. Só cerveja sem álcool, cercado de amigos talentosos e boêmios. 

Com os amigos de copo Tarso de Castro e Sérgio Cabral, no final dos anos 60, fundou “O Pasquim”, um jornal ligado a intelligentsia  e a boemia carioca.

“O Pasquim” era um jornal feito por jornalistas e artistas geniais e boêmios. O conteúdo do semanário era produzido por um grupo de amigos, que, não raro, se reunia em bares com mais frequência do que em sua própria sede, na Rua do Resende, na Lapa. 

No jornal, todo mundo bebia. Até os censores. 

Com a instalação do AI-5, a censura prévia, em certo momento, passou a ser feita na redação do jornal.

Designaram para a missão, uma senhora muito séria, sisuda e de constante mau humor que passava o dia lendo e vetando tudo o que era produzido pela “patota”. 

A redação era um caos, uma zorra, uma festa de risos e bebidas, que muitas vezes varava a noite. E a censora sempre firme, em sua mesa, sem nenhum sorriso no rosto.

Um dia, no final do expediente, Jaguar aproximou-se da senhora e ofereceu:  "A senhora não quer tomar um pouquinho antes de ir embora?" Ela, timidamente, aceitou um pequeno gole. 

No dia seguinte, Jaguar deixou, estrategicamente, uma garrafa de uísque e um copo ao lado da mesa dela. 

Em pouco tempo, a censora estava bebendo com todos, no meio da redação, feliz da vida... e aprovando geral. 

Claro, logo ela foi sumariamente demitida. 

A anarquia característica do jornal, que nem por isso deixava de carregar um teor crítico e politizado, era reflexo da profunda amizade entre seus colaboradores, que formaram o grupo apelidado pelo jornalista Carlos Leonam de “esquerda festiva” – uma nomenclatura que une as duas faces do “Pasquim”: a boemia e o engajamento esquerdista.

Essa “estética de botequim”, diretamente ligada ao estilo de vida que os redatores e articulistas do jornal viviam, era o “charme” da publicação. As entrevistas, eram sempre regadas a uísque, o que libertava o entrevistado da timidez e deixava a redação de porre. 

O Pasquim foi, intencionalmente, um órgão disseminador do humor e do estilo de vida carioca. Lançou moda, gírias e expressões que rapidamente caíram no gosto popular: “putzgrila”, “bicha”, “duca”, entre outras. 

Pelas redações do semanário passaram  ícones do humor, da intelectualidade, da boemia e do jornalismo carioca como: Millôr Fernandes, Ziraldo, Ivan Lessa, Jaguar, Tarso de Castro, Nani, Cláudio Ceccon, Luscar, Duayer, Carlos Prósperi, Ivan Lessa, Paulo Francis, Sérgio Cabral, Henfil, Fortuna, Luiz Carlos Maciel e Fausto Wolff, entre outros.

O semanário dos beberrões de Ipanema contou também com a participação, em suas páginas, de figuras emblemáticas da vida carioca. Integravam a “patota” - como era chamada a equipe: Carlos Leonam, Sérgio Augusto, Flávio Rangel, Cacá Diegues, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Miguel Paiva, Leila Diniz, Tom Jobim, Glauber Rocha, Odete Lara, Helô Pinheiro, Elis Regina, Danuza e Nara Leão, entre outros. 

Sem pautas ou direcionamentos ideológicos pré-definidos, a “linha editorial” do “Pasquim” atingia assim uma espontaneidade singular. 

Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe começou sua carreira em 1952, na revista Manchete, onde, por influência de Borjalo passou a assinar somente Jaguar. 

Na mesma época, trabalhava no Banco do Brasil subordinado a Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

Trabalhou, ainda, na “Revista da Semana”, “Senhor”, “Civilização Brasileira”; no semanário Pif-Paf e nos jornais “Última Hora”, “Tribuna da Imprensa”, e “O Dia”, entre outros.

Hoje, Jaguar continua destilando sua verne na “Folha de São Paulo”, onde publica seus textos e desenhos geniais.

E bebe. Sem álcool.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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