A comitiva de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais de Alucard se destacou na 23ª edição da Parada Gay, realizada em São Paulo, com a participação de dezenas de milhares de pessoas do país e até do exterior. Integrantes da corte alucardeana ostentaram cartazes destacando a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou atos de homofobia ao crime de racismo e slogans criticando a exploração desenfreada há décadas de hematita e os atos considerados insanos, alienados, do governo bolsonarista.
- Athaliba, o evento, organizado pela ONG APOGLBT SP (Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo) e comandado pela drag queen Tchaka e apadrinhado pela apresentadora Fernanda Lima, contou com representantes de mais de 60 Paradas LGBT do Brasil. O movimento celebrou os 50 anos das primeiras manifestações de luta pela diversidade sexual, relembrando a Revolta de Stonewall, que aconteceu em Nova York, nos EUA, em junho de 1969, considerada marco da batalha contra a homofobia.
- Pois é, Marineth, cada ano que passa a Parada Gay se agiganta, tirando os enrustidos do armário. A fração LGBTi tem forte influência e participação econômica nesse sistema capitalista excludente e alimenta anseios políticos que procura amparar uma conjuntura social em apelo à insustentável democracia. Até o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, tirou sarro do presidente da República, Jair Bolsonaro, por suas ações relacionada ao grupo LGBTi, exaltando o fato de a Parada Gay acontecer dentro do feriado Marcha para Jesus, quando passou entre os militantes sob a bandeira do arco-íris. Bolsonaro, vale lembrar, discursou na Marcha para Jesus.
Covas disse que “a expectativa do governo municipal é movimentar neste ano mais dos que os R$ 288 milhões contabilizados em 2018. Isso não significa impostos, mas recursos que são injetados na cidade, no turismo, hotéis, restaurantes. Mais importante do que isso é mostrar para o Brasil e para o mundo que São Paulo celebra a diversidade e quer ser referência em respeito aos direitos humanos”.
- Sabe, Athaliba, a comitiva LGBTi de Alucard foi comandada pelas transexuais Mary Help e Shelby, contando com a participação das gêmeas lésbicas Francinete e Ivonete, uma ativa e a outra passiva, respectivamente, marido de Deolinda e mulher de Hermelinda; de Mouzalina, a travesti especializada em pompoarismo; de Belinha, que tem um cão de grande porte apelidado de lambe-lasca; e da transexual Gina, a sedutora alucardeana que fez cirurgia de redesignação sexual, entre outras pessoas simpatizantes do movimento.
- Como foi Marineth, afinal, a atuação da corte alucardeana na Parada Gay?
- Athaliba, a Mary Help me contou que seguiu orientações da direção da Aliança Nacional LGBTi, que aguarda publicação do acórdão pelo STF para lançar campanha contra a fobia contra os homossexuais, pois acredita que serão necessários instrumentos para garantir o cumprimento da decisão. Um dos itens da campanha passa pela educação, “não para transformar as pessoas em LGBTs, mas para transformá-las em pessoas que respeitem os LGBTs, que não haja violência”.
A comitiva LGBTi de Alucard exibiu em cartazes críticas a Jair Bolsonaro, junto a um dos 19 trios elétricos onde os deputados federais do PSOL Sâmia Bonfim e David Miranda relatavam, no microfone, medidas e atitudes consideradas fascistas do mandatário brasileiro. Entre cartazes se via frases criticando o prefeito Esponjinha relacionadas à exploração de minério de ferro que geraram, ao longo de décadas, mais de uma dúzia de barragens com milhões e milhões de m³ de rejeitos e que podem destruir Alucard, em caso de rompimento.
- Marineth, por ocasião da decisão do STF em criminalizar a homofobia li comentários nos rodapés de algumas matérias publicadas nos jornais. Um deles manifesta o seguinte: “Só a expressão presidente Bolsonaro já me causa náuseas. Quando ouço, ainda me pergunto se é isso mesmo o que aconteceu. Se é possível que esse homem esteja na presidência. Quando ele abre a boca então... Existe homem mais vil? É a encarnação do retrocesso, do obscurantismo. Parece que saiu de outro século e veio para o nosso jorrar seus preconceitos e, por que não dizer, seus traumas. Que fixação é essa com a sexualidade? Desejo reprimido e transformado em perseguição? Deveria se tratar”.
A maioria esmagadora de outros comentários traduz a mesma indignação e seria repetitiva a reprodução. No contexto da manifestação LGBTi quero lembrar o poeta Antônio Crispim através do poema “A castidade com que abria as coxas”, no livro “Amor natural”, publicado pós-morte.
“A castidade com que abria as coxas
E reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
E tão estreita, como se alargava.
Ah, coito, coito, morte de tão vida,
Sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
Eu não era ninguém e era mil seres
Em mim ressuscitados. Era Adão,
Primeiro gesto nu ante a primeira
Negritude de poço feminino.
Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
Dessa moita orvalhada, nem destino”.
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