Em nota divulgada pela presidência do Senado na manhã de hoje (25), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) assegurou que as conversas – divulgadas pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira, com o ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras) Sérgio Machado – não têm relação com a Lava Jato e afirmou que é “hábito” receber pessoas que o procuram. Nos diálogos divulgados pelo jornal, o senador defende mudanças na lei que trata de delação premiada de forma a impedir que um preso se torne delator. Esse procedimento é o mais usado nas investigações da Operação Lava Jato.
“Os diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações”, destacou o texto assinado pela assessoria de imprensa da presidência do Senado.
Em um dos trechos das conversas divulgados pela reportagem, Machado sugere a Renan "um pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil" e cita o Supremo Tribunal Federal (STF). Renan responde: "Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa, porque aí você regulamenta a delação."
Segundo o jornal, na conversa com Machado, Renan diz que, após enfrentar esse assunto da delação, poderia negociar com membros do STF a “transição” da presidenta afastada Dilma Rousseff, que seria o segundo ponto apontado por ele.
Renan diz, na conversa divulgada, que todos os políticos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio está com medo. [me procurou]: 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", relatou Renan, em referência à delação do ex-senador Delcídio do Amaral, que citava o senador tucano e presidente do PSDB, Aécio Neves (PSDB-MG). Delcídio teve o pedido de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar aprovado, após um longo processo iniciado logo depois do senador ter sido preso, em novembro do ano passado, por obstrução da Justiça. O senador foi flagrado em conversa com o filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, oferecendo propina e um plano de fuga para que Cerveró não firmasse acordo de delação premiada com o Ministério Público no âmbito da Lava Jato.
Sobre essa citação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), a nota diz que Renan pede desculpas "porque se expressou inadequadamente". Na gravação, Renan disse que o tucano estava com medo e o procurou pedindo para que o senador acompanhasse a delação do ex-senador Delcídio do Amaral para ver "se tem mais alguma coisa". Segundo o texto, Renan se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação e não medo.
Em outro trecho, o presidente do Congresso afirma que uma delação da empreiteira Odebrecht "vai mostrar as contas". Na interpretação do jornal, essa seria uma referência à campanha eleitoral da presidenta afastada Dilma Rousseff. Sérgio Machado ressalta que "não escapa ninguém de nenhum partido". "Do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum”, afirma o ex-presidente da Transpetro.
Durante uma das conversas, Renan se mostra incomodado ao ser informado pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA) de que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), esteve com o presidente em exercício Michel Temer em março, antes de o peemedebista assumir a presidência da República interinamente. “Como é que está, como é que está tua relação com o Michel?”, pergunta Machado. “Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... o Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse: 'Porra, também é demais, né?'”, respondeu Renan Calheiros.
A nota reiterou ainda as críticas de Renan ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem Renan chamou de ex-presidente da Câmara. Cunha está afastado do mandato e da presidência da Câmara, por uma liminar expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Outras conversas
Romero Jucá (PMDB-RR) também teve conversas divulgadas pela Folha de S. Paulo. O senador foi exonerado do comando do Ministério do Planejamento e só retorna ao cargo depois de a Procuradoria-Geral da República se manifestar sobre a questão.
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