
Juiz de Fora (MG) - Carma, em síntese, seria uma ação boa ou má que de alguma maneira vai postergar ou aproximar a possibilidade de salvação final. Isso prejudicando ou favorecendo a quantidade de transmigrações até alcançar o objetivo da pureza final.
Quando ouvi, pela primeira vez, alguém vaticinar como carma as dificuldades de alguém na vida, e que isso seria um tipo de purificação ou punição, fiquei imaginando que o carma, enfim, seria a explicação de todos os dilemas sociais. Portanto, tudo que acontece de mal com alguém como a pobreza extrema, ter uma cor de pele que torna o ser segregado dos outros, ou a má sorte poderiam ter no carma a explicação, e tudo estava resolvido. Se as coisas são assim é porque aquele ser carrega um carma causado por um mau ato anterior, alguma coisa em seu passado de transmigrações que fez com que o ser tenha um destino bom ou mau.
Destino também é uma história bem interessante, dizendo que as coisas são como são porque é destino. Isso, claro, dito por aquele que não sofre as ações maléficas do destino.
Isso nos leva à crueldade da História. A História é cruel, sendo esquecido que aqueles que fazem a História acontecer, e ser como ela é, são os próprios homens.
Todo o conjunto da obra nos leva a um único sentimento: o egoísmo. Afinal, se alguém consegue ultrapassar a porta da miséria para a opulência antes que ela feche sempre vê no outro o fracassado. Mesmo que tenha nascido em berço esplêndido com todas as regalias. Afinal, o destino foi bom para ele assim como a História, como escritor da História, logo, é uma questão de mérito: o mérito de ter tido sorte na vida.
Assim, destino e carma são as desculpas perfeitas para alguns se darem por satisfeito com um mundo desigual. A desigualdade é fruto dessas desculpas, minimamente, esfarrapadas. E o mundo caminha igual, com o destino e o carma sendo os vilões da História.
Brincar com palavras é muito divertido. Até porque elas dizem aquilo que queremos que elas digam. Podemos encontrar todas as palavras e todas as explicações possíveis para justificar o injustificável. Não podemos nos esquecer, no entanto, da voz que fala nessas coisas, causando uma naturalização. Ou seja, encararmos como naturais as desditas alheias, buscando no dicionário as desculpas para nossa falta de humanismo.
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