Belo Horizonte - Um estudo realizado pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou que as plataformas da Meta, como Facebook, Instagram e WhatsApp, têm sido utilizadas para disseminação de golpes financeiros. O levantamento analisou a presença de anúncios fraudulentos nessas redes, evidenciando o uso dessas plataformas por criminosos para enganar usuários.
Entre os dias 10 e 21 de janeiro deste ano, o NetLab monitorou a veiculação de anúncios maliciosos, período que coincidiu com a polêmica em torno da Instrução Normativa 2.219/2024 da Receita Federal. A norma exigia que operadoras de cartões e instituições de pagamento reportassem determinadas transações financeiras, o que gerou desinformação e especulações sobre suposta taxação do Pix. Diante da repercussão negativa, o governo revogou a medida em 15 de janeiro. No entanto, a retirada da norma não conteve a disseminação de golpes: a pesquisa apontou um aumento de 35% na veiculação de anúncios fraudulentos nas redes da Meta após a revogação.
Táticas Utilizadas por Golpistas
A análise identificou 151 anunciantes responsáveis pela veiculação de 1.770 anúncios suspeitos e o direcionamento dos usuários para 87 sites fraudulentos. Muitos desses anúncios utilizavam nomes e logotipos de instituições públicas e privadas para enganar vítimas. Em 40,5% dos casos, os criminosos se passavam pelo governo federal para oferecer falsas oportunidades financeiras. Golpes envolviam promessas de resgate de benefícios fictícios, como "Resgata Brasil" e "Compensação da Virada", e a venda de supostos guias para evitar a "taxação do Pix".
O estudo critica a Meta pela falta de rigor na verificação de anunciantes e pela pouca transparência no controle de conteúdos publicitários. Além disso, aponta que os criminosos utilizam ferramentas de segmentação para atingir grupos vulneráveis, como pessoas de baixa renda em busca de benefícios governamentais. "A facilidade com que essas páginas conseguem veicular anúncios falsos expõe a fragilidade dos processos de verificação da Meta", destaca o relatório.
Uso de Inteligência Artificial em Fraudes
A pesquisa também revelou que 70,3% dos anúncios fraudulentos faziam uso de inteligência artificial. Foram identificadas deepfakes envolvendo o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), apresentando-o como porta-voz de supostos benefícios financeiros. A manipulação digital também incluiu imagens de figuras públicas como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o jornalista William Bonner.
Dados do Instituto Datafolha apontam que fraudes financeiras baseadas em Pix e boletos causam um prejuízo anual de R$ 25,5 bilhões aos consumidores no Brasil. Outra pesquisa, conduzida pela Silverguard, indicou que 79,3% das denúncias de golpes financeiros registrados na plataforma SOS Golpe tiveram origem em redes da Meta.
Em nota, a Meta afirmou que anúncios enganosos violam suas diretrizes e que investe continuamente no aprimoramento de suas ferramentas de segurança. A empresa recomendou que usuários denunciem conteúdos suspeitos diretamente nos aplicativos.
Entretanto, especialistas alertam que recentes mudanças na moderação de conteúdo do Facebook e Instagram, incluindo o fim do programa de checagem de fatos, podem facilitar ainda mais a propagação de golpes. O estudo do NetLab destaca que a Meta não esclareceu se essas mudanças afetarão a fiscalização de anúncios publicitários fraudulentos, o que gera preocupação sobre a segurança dos usuários nas plataformas digitais.
Comentários