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Em acareação no STF, Braga Netto chama Mauro Cid de “mentiroso”

General e delator ficaram frente a frente por mais de uma hora em audiência fechada; Cid permaneceu calado diante da acusação

Isac Nobrega/PR - Gustavo Moreno/STF - 

Brasília - O general da reserva Walter Braga Netto chamou de “mentiroso” o tenente-coronel Mauro Cid durante a acareação realizada na manhã desta terça-feira (24), no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ambos são réus no processo.

Segundo o advogado de Braga Netto, José Luis Oliveira Lima, o ex-ministro acusou Cid diretamente durante o encontro conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. “O general Braga Netto, em duas oportunidades, afirmou que o senhor Mauro Cid, que permaneceu por todo ato com a cabeça baixa, era mentiroso. E ele [Cid] não retrucou quando teve oportunidade”, disse o defensor a jornalistas após a sessão.

A acareação durou cerca de uma hora e meia e foi solicitada pela própria defesa de Braga Netto, que contesta trechos da delação premiada de Cid à Polícia Federal. O militar reformado é apontado como um dos articuladores da tentativa de ruptura institucional.

A audiência ocorreu de forma reservada, com acesso restrito aos réus, seus advogados, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux — este último como integrante da Primeira Turma do STF, colegiado responsável pelo julgamento do caso. Os demais ministros do grupo são Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Ponto a ponto da acusação

Dois pontos da delação de Mauro Cid foram diretamente confrontados. Em um deles, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro disse ter recebido R$ 100 mil das mãos de Braga Netto, entregues numa sacola de vinho. O valor seria destinado ao custeio logístico de um plano golpista.

Em outro trecho da colaboração, Cid relatou que o general sediou, em sua própria casa, uma reunião para discutir o plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que envolveria ações clandestinas de monitoramento e até assassinato de autoridades. Braga Netto nega ambas as acusações e afirma que qualquer encontro em sua residência foi fortuito e sem conteúdo conspiratório.

Desde dezembro de 2024, Braga Netto está preso preventivamente por suspeita de tentar obstruir as investigações e acessar informações confidenciais da delação de Cid.

Defesa reclama de audiência fechada

A audiência foi gravada, mas a gravação não será divulgada, segundo decisão de Moraes. Uma ata será anexada aos autos, mas a restrição de publicidade foi criticada pela defesa do general. “A prerrogativa da defesa foi violada. É uma pena que isso não tenha sido registrado para que a sociedade pudesse acompanhar”, afirmou o advogado José Luis Oliveira Lima.

Segunda acareação em sequência

Logo após o confronto entre Cid e Braga Netto, teve início uma segunda acareação. Desta vez, entre Anderson Torres — ex-ministro da Justiça de Bolsonaro — e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército. Torres também é réu na ação penal, enquanto Freire Gomes figura como uma das principais testemunhas. A defesa de Torres solicitou o procedimento para esclarecer supostas contradições no depoimento prestado pelo militar.

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