Cidades

Manifestantes contrários ao impeachment acampam no centro de Belo Horizonte

A concentração do ato começou às 10h, na Praça Afonso Arinos, e foi convocada pela Frente Brasil Popular, composta por diversas entidades e movimentos sociais (Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil)
A concentração do ato  na Praça Afonso Arinos foi convocada pela Frente Brasil Popular, composta por diversas entidades e movimentos sociais (Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil)

Manifestantes contrários ao impeachment comemoraram o 1 ºde maio, dia do trabalhador, com manifestações e protestos contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Para demonstrar resistência ao processo que corre agora no Senado, manifestantes ligados a movimentos sociais acamparam na Praça da Liberdade e prometem permanecer ali com atividades políticas para conscientizar a população do risco que corre a democracia. Eles alegam que o processo de impeachment contra a presidente Dilma é um golpe institucional, já que não há base legal para o impedimento.

Protesto

Um grupo de manifestantes protestou na porta do edifício onde mora o senador Antônio Anastasia (PSDB), no bairro de Lourdes, o que gerou bate-boca com pessoas favoráveis ao afastamento da presidente Dilma Rousseff que passavam pelo local. O muro do edifício também foi pichado com a expressão “PSDB golpista”. Segundo a Polícia Militar, os ânimos se acalmaram e ninguém foi detido. O síndico do edifício registrou ocorrência de dano, mas o autor da pichação não foi identificado.

Segundo a presidenta da (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, o acampamento na Praça da Liberdade será por tempo indeterminado. "Não temos data para sair. Vamos avaliando pela conjuntura. A ideia é fazer daqui um lugar para debate do momento atual. Vimos anteontem, por exemplo, a justiça mineira tomar a decisão de impedir que as pessoas discutam o impeachment. Vamos nos manter vigilantes e debater todos esses ataques à democracia", explicou referindo-se à decisão de uma juíza do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que, na sexta-feira (29), proibiu a realização de uma assembléia de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

A concentração do ato começou às 10h, na Praça Afonso Arinos e foi convocada pela Frente Brasil Popular, composta por diversas entidades e movimentos sociais. As lideranças se revezaram no microfone para lembrar a importância do 1º de maio para os trabalhadores. Para Beatriz Cerqueira, o ato resgatou o espírito do movimento sindical: "Nos últimos anos, o 1º de maio foi lembrado com festas e sorteios pelo movimento sindical. Esta não é uma data para festa, é uma data para luta. E este é o 1º de maio mais importante. Nos últimos 15 anos, nunca fomos tão atacados como agora. O cenário que se vislumbra é terrível para os trabalhadores do campo e da cidade, do mercado formal ou informal".

História

A greve dos metalúrgicos do ABC paulista foi lembrada pelo deputado estadual Durval Ângelo (PT). "Foi a mobilização em 1º de maio de 1978que  deu um passo fundamental para derrubar a ditadura militar alguns anos depois. Historicamente, esta data sempre esteve vinculada à luta pelas liberdades democráticas. Hoje, vivemos uma situação análoga. Há um risco de retrocesso no Brasil e de perda de direitos", comparou.

A deputada federal Jô Moraes (PCdoB) disse que os trabalhadores precisaram deixar em segundo plano pautas tradicionais presentes em manifestações dos anos anteriores. "Sem dúvida, a marca principal desse Primeiro de Maio é a defesa da democracia, mais do que os avanços em direitos e salários. Porque se já é difícil para os trabalhadores lutar num ambiente democrático, nós não temos dúvidas de que será muito mais complicado com essa agenda apresentada pelo Michel Temer que nos leva de volta ao passado. Os mais prejudicados serão os trabalhadores", alertou.

Integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Leonardo Péricles considera que a saída é crescer a unidade dos grupos de esquerda. O MLB não integra a Frente Brasil Popular. Movimentos que faziam oposição à gestão da presidente Dilma Rousseff se articularam em um outro grupo: a Frente Povo Sem Medo. Embora críticos das alianças que o PT realizou, defendem que este é um momento de mobilização conjunto e por isso se solidarizam com os atos da Frente Brasil Popular.

Mais cedo, aproximadamente 50 pessoas se reuniram na Praça da Liberdade para manifestarem apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Eles gritavam palavras de ordem e exaltavam o deputado e o coronel do Exército Brilhante Ustra, condenado pela justiça de São Paulo por comandar sessões de tortura durante o regime militar, quando chefiava o Doi-Codi na capital paulista. O coronel foi homenageado por Bolsonaro em seu voto a favor da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Ainda assim, o servidor público Júnior Amaral, de 28 anos, entende que o deputado não quer a ditadura de novo no Brasil: "Nem ele e nem nenhum de nós aqui pede a ditadura. Isso é uma forma de a esquerda tentar deturpar a nossa manifestação. O que defendemos são os valores que existiam na época do regime militar, que eram o respeito ao país, a educação moral e cívica nas escolas, a segurança pública. A sociedade era muito mais segura. Naquela época, era cerceada a liberdade dos guerrilheiros. E, sinceramente, onde há guerrilheiros, sou a favor de que as forças policiais atuem para nos garantir a liberdade".

Júnior Amaral explica que a mobilização para o ato foi feita pela internet e que o objetivo é se contrapor a uma ditadura de opinião aliada à ideologia de esquerda que estaria vigorando no país: "A imprensa dá uma conotação distorcida da verdade. Os livros do Ministério da Educação dão a versão do governo federal. Por exemplo, o problema do movimento gay é que eles buscam privilégios e distorcem a opinião de quem tem opinião diferente. Ninguém aqui é contra homossexual. Mas não concordamos que crianças de seis anos sejam educadas nas escolas a partir de causas homossexuais. Essa é a posição do Bolsonaro, mas por ele ser autêntico e espontâneo, acaba dando abertura para interpretações equivocadas".

Houve a preocupação de que pudessem ocorrer conflitos com a marcha da Frente Brasil Popular, que vinha da Praça Afonso Arinos com destino ao mesmo local. A Polícia Militar, porém, conseguiu negociar com as lideranças dos dois movimentos para que houvesse compatibilidade entre os horários de saída e de chagada de cada manifestação. Ainda assim, discussões mais acaloradas ocorreram com críticos do deputado Jair Bolsonaro que passavam pelo local. Os policiais intervieram e prenderam uma pessoa, segundo eles, por desobediência.

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