Acusado de chefiar quadrilha que explorava propina para a venda de roupa falsificada no comércio de Petrópolis, a notícia da prisão do delegado Maurício Demétrio soou como verdadeira bomba no núcleo policial do Rio de Janeiro. Ele, que foi titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial e atualmente servia à Delegacia do Consumidor, foi detido em um condomínio residencial de alto luxo na Barra da Tijuca. Na ação denominada “Carta de Corso”, realizada na manhã de 4ª feira, 30/6, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ), foram apreendidos com ele R$ 240 mil em espécie. Outras pessoas foram presas na ação.
O promotor do Ministério Público, Diogo Erthal, ao falar à imprensa sobre a ação policial que culminou na prisão do delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, disse que “a Polícia Civil foi utilizada como instrumento de uma organização criminosa e essa é apenas a ponta do iceberg”. O delegado negou todas as acusações, afirmando que “o dinheiro está declarado no meu Imposto de Renda, inventariado, herança da minha mãe; meus carros (três veículos blindados no valor de mais de R$ 1,5 milhão) foram comunicados à Corregedoria da Polícia Civil”.

Comandada pelo delegado, a quadrilha se dividia em dois núcleos distintos: os operadores em Petrópolis, integrado por Alex Sandro Gonçalves Simonete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz, “responsáveis por ameaçar os lojistas e recolher o dinheiro cobrado pela organização”. Na DRCPIM, disseram os promotores, tinha no esquema os policia civis Celso de Freitas Guimarães Júnior, Vinícius Cabral de Oliveira e Luiz Augusto Nascimento Aloise, além do perito criminal José Alexandre Duarte. “Todos responsáveis por subverter a estrutura da Polícia Civil, executando diligências como forma de represália aos lojistas que se recusavam a pagar os valores exigidos, chegando ao ponto de forjar provas e produzir laudo falso”.
Os denunciados irão responder por organização criminosa, concussão, obstrução de justiça, inserção de dados falsos em sistema, emissão de laudo falso e lavagem de dinheiro, cujas penas mínimas somadas superam 30 anos de prisão. A condenação resultará ainda na perda do cargo público.
Maurício Demétrio, quando titular da DRCPIM - segundo o promotor Diogo Erthal - forjou, em março, a ação policial “Raposa no Galinheiro”, à qual foi detido o delegado Marcelo Machado, que investigava a pirataria na Rua Teresa, em Petrópolis. O local é conhecido como polo central de moda, onde tem diversas lojas comerciais que atrai turistas de vários municípios do Estado do Rio de Janeiro nos fim de semana. Marcelo é proprietário de uma firma de confecção de roupas e foi acusado de produzir indumentárias piratas.
O promotor informou ainda que o policial civil Celso de Freitas Guimarães Júnior, chefe da DRCPIM e que “gozava de plena confiança do delegado Maurício Demétrio” já sabia que Marcelo investigava o esquema de propina orquestrado pelo agente titular daquela unidade especializada, desde agosto de 2020. “Portanto – garantiu o promotor – é evidente que Demétrio também sabia da investigação feita por Marcelo”.
O promotor Diogo Erthal revelou que Demétrio “utilizando uma conta falsa no WhastsApp a fim de garantir anonimato e alegando ter autorização dos titulares de direitos autorais solicitou a fabricação de mil camisas. A seguir conseguiu a expedição de mandados de busca e apreensão das peças de roupa, acabando por prender em flagrante o delegado Marcelo Machado. O pedido de busca foi feito antes mesmo de as camisas terem sido confeccionadas para fechar o negócio, mas protelou a entrega o quanto pôde a fim de obter mais informações contra Machado”.
A ação “Raposa no Galinheiro”, forjada minuciosamente e que contou com ampla cobertura da imprensa permitiu que o delegado Demétrio, depois de enganar o Ministério Público do Rio de Janeiro e o Judiciário, obtivesse destacados espaços nos meios de comunicação para caluniar e desacreditar aqueles que se colocavam como empecilho nos negócios da quadrilha. Em outra fase da ação, segundo promotores, a quadrilha chefiada pelo delegado Demétrio promoveu “ação espetaculosa na Rua Teresa para coagir, intimidar lojistas que poderiam ser testemunhas”.
A finalidade da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial é de investigar a pirataria e a violação de direitos autorais.
A direção da Associação da Rua Teresa (ARTE) divulgou a seguinte nota:
“Ressaltamos que, desde os anos 1960, a Rua Teresa é uma rua de comércio familiar e de confecção própria, em sua maioria, e que vem lidando com a concorrência desleal de produtos sem procedência comprovada há anos. Isso é uma realidade que também afeta outros polos de moda no Brasil e que prejudica os empresários que trabalham de maneira correta, pagando impostos e gerando vagas de carteira assinada. A ARTE não recebeu qualquer denúncia sobre o suposto esquema. Não fomos procurados pelos lojistas que estariam sendo extorquidos, segundo a investigação, ou mesmo pela Polícia. Esperamos que todos os detalhes sejam esclarecidos e os culpados punidos”.
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