"A marcha militar está para a música assim como Pinochet está para a Democracia." (Palomo)
Rio de Janeiro - Em 1994, fui convidado - eu e um monte de cartunistas - para desfilar na Ala dos Cartunistas da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha.
A Escola, com o enredo “Humor Pra Dar e Vender”, fazia uma homenagem ao humor e aos humoristas.
O samba, ainda lembro, tinha um refrão forte que dizia: “sou carioca/sou sacana como o quê/ tá sobrando no barraco/ humor pra dar e vender.”
Por problemas etílicos, acabei não desfilando, mas, em um dos ensaios, conheci, através do Ziraldo, o cartunista Palomo, um dos meus ídolos.
José Palomo Fuentes é um dos mais consagrados cartunistas latino-americano, chileno, adorava o carnaval carioca. Volta e meia visitava o Brasil, para participar da folia.
Colaborou com “O Pasquim” no auge do semanário. Boêmio e bem humorado, era amigo do Henfil, Ziraldo e Jaguar com quem frequentava o Bar do Marcô, em Santa Tereza.
“Henfil, um dos mais impressionantes cartunistas brasileiros, costumava dizer que o humor é como o vinho. E assim como as videiras e galhos, combinados com o clima, a luz solar e a água, dão de um clarete a um vinho tinto espesso e denso, da mesma maneira que cada sociedade elabora o humor com o qual processa sua experiência de vida social”, disse.
Morando no México onde se exilou desde que Augusto Pinochet chegou ao poder e instaurou a Ditadura Militar Chilena (1973-1990), a agonia de Palomo começou no início de setembro de 1973, quando voltava para casa, depois de um dia de trabalho. Palomo foi avisado por um de seus vizinhos, um exilado brasileiro, que a polícia estava em sua casa esperando para prendê-lo.
O cartunista se refugiou na embaixada mexicana onde pretendia ficar até a tempestade diminuir. Tinha um encontro marcado com o poeta, cantor e compositor Victor Jara, com quem celebraria o lançamento de seu álbum “Canto por Travessura”, ilustrado por ele.
Mas, foi avisado pelo embaixador que o amigo tinha sido detido e levado para o Estádio Nacional, de Santiago, onde fora torturado e assassinado, como aconteceu com muitas pessoas que nunca mais foram vistas.
A carreira de Palomo como cartunista começou no Chile, em 1963, aos 20 anos. Trabalhou nos jornais “Clarín”, “El Mercurio”, “El Siglo”, “La Quinta Rueda”, “El Peneca”, “El Pingüino” e “La Chiva”, entre outros.
No México, onde chegou como exilado político, em 73, foi co-fundador dos jornais “Unomásuno”, “La Jornada” e “Reforma”. Além disso, colaborou em “El Dia”, “El Economista” e “El Universal”.
Os trabalhos mais conhecidos de Palomo é a tira “O Quarto Reich”, publicada no jornal “Unomásuno”, onde retratou, ao longo da década de 1970, as ditaduras que assolaram a América Latina e a história infantil “Matías e o Bolo de Morango”, consideradas duas jóias de humor universal.
A obra de Palomo é reconhecida por sua universalidade, por sua capacidade crítica e por seu humor implacável e terrivelmente politizado.
“Quando vejo fotos de soldados chilenos queimando livros, acho que esses pobres desgraçados nunca imaginaram o que teria acontecido se, em vez de queimá-los, eles os tivessem lido. De vez em quando eu desenho meu terrorista favorito, uma sombra que, furtivamente, joga uma cópia de Don Quixote ou Treasure Island em um quartel”, disse.
"Para mim, desenhar nunca foi um trabalho, sempre fiz o que gosto: desenhar. Então, eu nunca trabalhei na minha vida", contou.
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