Coluna

VILMAR RODRIGUES

Rio - A redação da revista “MAD” era uma redação muito louca. Às cinco da tarde, invariavelmente, começava a rolar uísque, cerveja, pinga...

Todo mundo bebia. Todo mundo, menos o cartunista Vilmar Rodrigues, que, ironicamente, morreu de cirrose.

Vilmar Rodrigues
Vilmar por Bira Dantas (divulgação)

A vida e obra do Vilmar foi irônica e engraçada. Fazia todo mundo rir com seus desenhos. Mas era um tipo sério, comedido. 

Mas, no final das contas, que era divertido, lá isso era. Sério demais, mas, inegavelmente divertido.

Educado, calmo, metódico e eficiente. O cartunista entregava o trabalho, comprimentava todo mundo, e saia da redação sem que ninguém notasse. 

Vilmar Rodrigues, nasceu em Bagé, no Rio Grande do Sul, em 14 de dezembro de 1931. Foi um renomado desenhista, ilustrador e pintor brasileiro.

Em 1945, mudou-se para o Rio. 

Em 1956, com 25 anos, passou a colaborar com o jornal “Última Hora”, do jornalista Samuel Wainer. 

Em 1957, se formou em desenho e começou a dedicar-se também a propaganda. Trabalhou nas agências Norton, McCann Erickson, Thompson, Paulo Giovanni, MPM e Provarejo, entre outras.

Conciliando publicidade e jornalismo, Vilmar colaborou para os jornais “O Cruzeiro”, “O Pasquim”, “Pif-Paf”, “Jornal de Notícias”, “Correio da Manhã”, “Dinners”, “MAD” (versão brasileira), “Jornal do Brasil”, dentre muitos outros. 

Vilmar já foi várias vezes premiado pelo seu talento. Em 1957, obteve o 3° prêmio no XI Salão Internacional de Humor, realizado no Canadá.  

Como ilustrador foi parceiro por 22 anos do escritor Carlos Eduardo Novaes de quem ilustrou 18 livros, entre eles “Capitalismo para Principiantes” e “História do Brasil para Principiantes”. Ilustrou, também, “Hai-Kais”, de Millôr Fernandes; “ O Guia do Assaltado”, de Roberto Schneider …

Como desenhista de histórias em quadrinhos criou o personagem Fogaça, distribuído nos anos 60, por Maurício de Souza.

Em 1973 Vilmar criou, com seu traço caricato, o Super-Negro, um professor que ao pronunciar a palavra Shazam! se transformava no herói. Apesar do uniforme e do grito similar ao estrangeiro, era um super-herói brasileiro. O personagem teve vida curta.

Contribui, também, com o gênero terror, para a revista “Sobrenatural” da Editora Vecchi, nos anos 80.

Seus cartuns ilustram revistas internacionais como “La Codorniz” (Espanha) e “Il Travaso” (Itália). 

Otacílio Assunção era o editor da “MAD” brasileira quando Vilmar apareceu por  lá, trazido pelo escritor Carlos Eduardo Novaes.

Novaes já fazia sucesso no “Jornal do Brasil”, quando foi convidado para trabalhar na “MAD”. 

Novaes e Vilmar Rodrigues já eram amigos. O cartunista já ilustrava as crônicas do escritor carioca, compiladas em livros e foi convidado pelo amigo para ilustrar suas seis páginas na revista.

No entanto, Novaes não deu muito certo. Ele era bom em texto corrido, crônicas e romances, mas, para escrever quadrinhos, a coisa não funcionou.

Sua estada na “MAD” durou uma meia dúzia de edições e seu contrato não foi renovado. Já Vilmar era a cara da revista e continuou sendo um dos principais colaboradores da revista por mais de 20 anos.

capa da revista MAD ilustrada por Vilmar Rodrigues
Capa da MAD por Vilmar Rodrigues (divulgação)

A “MAD” fazia muito sucesso com sátiras de filmes nacionais e estrangeiros. A edição 32  traria a paródia do filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. 

O texto do Domingos Demasi já estava pronto, mas a  produção do filme se recusou a liberar as fotos para fazer a sátira.

Ota, apesar de já ter esvaziado algumas garrafas de destilados, mas, confirmando a frase célebre de Humphrey Bogart: “todo homem está sempre três doses abaixo do normal”, teve uma sacada genial.

Levou Vilmar ao cinema para assistir “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e o cartunista gaúcho ficou memorizando as feições dos atores, fazendo anotações e rascunhando tudo no escuro. 

No dia seguinte, Vilmar chegou na redação com a paródia do filme e a capa da revista prontos.

Vilmar era genial.

O cartunista faleceu em 1997, no Rio de Janeiro.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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