Água, fogo e fumaça marcam primeiro dia de desfiles do Grupo Especial no Rio

Rio de Janeiro - O Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, foi palco de um espetáculo grandioso na noite de domingo (2) e madrugada desta segunda-feira (3), com a abertura dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval 2024. Quatro escolas de samba passaram pela avenida em apresentações marcadas pelo uso de efeitos visuais impactantes, como neon, água, fogo e fumaça, além de carros alegóricos com partes móveis.
Os enredos das agremiações trouxeram à tona a ancestralidade afro-brasileira, destacando as religiões de matriz africana e afro-indígena, figuras históricas da resistência e a influência cultural de povos africanos na formação do Brasil.
Unidos de Padre Miguel: O retorno triunfal ao Grupo Especial
A Unidos de Padre Miguel abriu os desfiles celebrando seu retorno ao Grupo Especial após 52 anos, com o enredo "Egbé Iyá Nassô", uma homenagem a Iyá Nassô, fundadora do Candomblé da Barroquinha, que deu origem ao Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador.
Destaque para a alegoria do Boi Vermelho, representando Xangô, e para a presença dos filhos do Terreiro Casa Branca. A Iyálorisá Neuza Cruz, emocionada, celebrou a homenagem:
"Foi um presente ancestral. Estamos muito felizes".
Imperatriz Leopoldinense: A lenda de Oxalá na avenida
A segunda escola da noite foi a Imperatriz Leopoldinense, atual campeã do carnaval, que apresentou o enredo "Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón", retratando uma passagem mitológica de Oxalá e sua jornada até o reino de Xangô.
O desfile trouxe referências ao Itã, narrativa oral iorubá que transmite ensinamentos sobre os orixás. Cátia Drumond, presidente da escola, destacou o sentimento da comunidade:
"Passamos bem, felizes e dentro do tempo. Agora é esperar a apuração".
Unidos do Viradouro: A força de Malunguinho
Terceira a desfilar, a Unidos do Viradouro, campeã de 2020, exaltou Malunguinho, líder quilombola do Catucá, em Pernambuco, reverenciado na Jurema como mestre, caboclo e Exu.
A escola investiu em efeitos visuais, com neon, fogo e água, criando um espetáculo místico e vibrante. A passista Duda Almeida, grávida, não escondeu a emoção:
"Sou a terceira geração da minha família a desfilar grávida. Espero que a gente conquiste o bicampeonato".
O desfile contou com uma ala especial para a nação Jurema, homenageando líderes espirituais como Jorge Arruda, que destacou a importância do momento:
"É uma resistência negra e antirracista. Ver Malunguinho na Sapucaí é emocionante".
Mangueira: A cultura bantu e a força da resistência
Encerrando a noite, a Estação Primeira de Mangueira, com 20 títulos no currículo, trouxe o enredo "À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões", exaltando a presença da cultura bantu no Brasil.
A alegoria inicial representou o oceano Atlântico, conexão entre África e América, enquanto um dos carros trouxe um paredão de caixas de som, remetendo a manifestações culturais urbanas como o passinho, o samba e o funk.
A escola desfilou dentro do tempo limite de 79 minutos, em uma apresentação emocionante para veteranos e estreantes, como a pequena Ayla, da ala infantil:
"Torçam para a gente ganhar!".
Novidades e próximos desfiles
Pela primeira vez, o Grupo Especial desfila em três noites, com quatro escolas por dia. O novo formato busca mais qualidade e equilíbrio na apresentação das agremiações.
Na noite desta segunda-feira (3), será a vez de Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Acadêmicos do Salgueiro e Unidos de Vila Isabel. Já na terça-feira (4), fecham os desfiles Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Grande Rio e Portela.
A apuração das notas acontecerá na quarta-feira (5), quando será conhecida a campeã do Carnaval 2024.
*Com informações da Agência Brasil
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